Por Hussein Mohamad Taha*

Nos últimos quatro anos temos ouvido apenas notícias sobre o genocídio que tem ocorrido na Síria, inocentes tem sido barbaramente assassinados por terroristas disfarçados de oposição síria. Esses terroristas, como já sabemos, são financiados por países inescrupulosos como Arábia Saudita, Estados Unidos, Israel, Qatar e países da Europa, com apoio da Turquia entre outros. Mas, o que pouco temos ouvido ou ficamos sabendo através da grande mídia, (mídia esta a serviço desses países inimigos da Síria que se intitulam “amigos da Síria”, mas que não passam de agentes terroristas da Al-Qaeda), é o que tem ocorrido no Líbano, país irmão da Síria. Nos últimos 6 meses, ataques terroristas têm acontecido em várias cidades de norte a sul deste país que durante 25 anos sofreu com uma guerra civil, com a invasão de Israel em seu território entre outros fatores.

Para entendermos a atual conjuntura do Líbano, precisamos retornar ao ano de 1943, quando ele se torna independente da França, mas com a desmilitarização por parte francesa ocorrendo apenas três anos mais tarde. É estabelecido um sistema político único, uma partilha de poder com base em comunidades religiosas. O Líbano, sob o ponto de vista financeiro, era conhecido como a “Suíça do Oriente”. Por ali eram feitas grandes negociações de petróleo e os maiores bancos do mundo estabeleceram suas sedes. No turismo, Beirute, sua capital, era conhecida como a Paris do Oriente; possuía cassinos e hotéis de luxo, porém, disputas crescentes entre cristãos e muçulmanos e a presença de refugiados palestinos fragilizaram a estabilidade do país.

A hostilidade entre os grupos cristãos e muçulmanos levou a uma guerra civil e à intervenção armada (1976) pela Síria, com apoio dos EUA e de Israel. As atividades da Organização para libertação da Palestina (OLP) levaram à invasão e ocupação israelense (1978) da parte sul do Líbano. Uma força de paz tentou, sem sucesso, estabelecer uma zona intermediária. Em 1982, Israel promoveu uma grande invasão militar, as forças de paz da ONU retornaram para a região quando houve o massacre de civis palestinos em Sabra e Chatila, realizado por Israel. O ato foi comandado pelo General Ariel Sharon. Em 1987, para acabar com a luta entre as forças muçulmanas aliadas, a Síria interveio. Israel criou o Exército do Sul do Líbano e ocorreram cerca de vinte invasões aéreas israelitas durante o ano de 1988.

No mesmo ano, o comando libanês acaba com o fim do mandato de Amin Gemayel, o país passa a ter dois primeiros-ministros (o sunita Selim Hoss, que era o primeiro-ministro de fato e de direito, de acordo com a Constituição, e o general cristão Michel Aoun, indicado por Gemayel) e nenhum presidente.
Em 1989, foi negociado um acordo na Arábia Saudita (Acordo de Taif). Nele, o domínio maronita (cristão) no comando do País deveria ser reduzido. Apesar da relutância, uma frágil paz foi estabelecida sob a proteção da Síria, que foi formalizada por um tratado em 1991. Em 1996, agressões israelenses provocaram a intervenção dos Estados Unidos e da França. Com a participação da Síria, do Líbano e de Israel, foi aberta uma negociação que ficou conhecida como “entendimento de abril” que reconheceu o direito de resistência contra a ocupação do exército israelita e a milícia pró-israelita chamada Exército do Sul do Líbano, com as devidas salvaguardas da população civil e da infraestrutura do país.

A Resistência Libanesa obedeceu ao “entendimento de abril”, não violando os seus termos. O que tem ocorrido desde então são ações de legítima defesa da resistência libanesa contra a ocupação, que causaram o descontrole do exército de Israel, o qual começou a perpetuar ataques contra o Líbano. Finalmente, em maio de 2000, Israel, sob pressão da Resistência, se retirou de grande parte do sul do Líbano. A retirada foi repentina, para provocar uma guerra civil em pequena escala. Entretanto, os libaneses reclamam da ocupação israelense das Fazendas de Chebaa, região continua às Colinas do Golã.

Após a retirada israelense em 2000, surgiram pressões para a retirada das tropas sírias do país. Bashar al-Assad, filho e sucessor de Hafez al-Assad, que entrou no poder em 2001, iniciou a retirada de alguns contingentes sírios no mesmo ano, reduzindo o número de efetivos de 30 mil para 15 mil soldados. Após o assassinato do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, em 2005, milhares de pessoas saem ruas exigindo a total retirada das tropas sírias, o que ocorreria no mesmo ano.

Em 2006, depois da captura de dois soldados israelitas pelo Hezbollah, Israel bombardeia todo o país, destruindo a sua infraestrutura e causando milhares de vítimas, partindo depois para uma invasão terrestre, condenada a nível internacional. Esta última invasão israelita deixou sequelas na frágil coligação governamental, com os ministros ligados ao Hezbollah abandonando o governo de unidade nacional presidido pela coligação pró-ocidental “14 de março”. Em 2007 deterioram-se as relações entre ambos os blocos, o que se traduziu na impossibilidade da eleição de um novo Presidente após o fim do poder do Presidente pró-sírio ÉmilLahoud em 2007. A tensão entre o movimento pró-sírio e o movimento pró-ocidental culminou na investida do Hezbollah contra o governo do primeiro-ministro Fouad Siniora e seus aliados, que implicou uma invasão armada da cidade de Beirute em maio de 2007. Após uma rodada de conversações de paz no Qatar, formou-se um novo governo, tendo à frente, como presidente, o general Michel Suleiman.

Como vimos nesse breve histórico, o Líbano é marcado por conflitos internos e com Israel, instabilidades políticas, características da formação política do país e com participação da Síria aliada do Hezbollah com simpatia por parte de uma significativa parcela da população. Com a entrada do Hezbollah no fim de 2012 no conflito Sírio, o Líbano torna-se alvo de ataques terroristas, matando inúmeros inocentes, inclusive uma brasileira. Esses ataques têm a intenção clara de desestabilizar o Líbano politicamente. Em parte até têm atingido seu objetivo, já que o Líbano está fragilizado economicamente e o governo paralisado por 10 meses, devido a impasses políticos. O segundo objetivo é jogar a população libanesa contra o Hezbollah. Esse propósito, contudo, não tem obtido êxito, já que o povo libanês sabe da importância da participação do grupo no conflito no país vizinho.

Sem essa intervenção, a Síria teria se transformado em um Iraque, Afeganistão ou até na Líbia e o Líbano estaria sendo mais uma vítima de países que apenas têm a intenção de vender ou controlar as reservas de gás e petróleo e assim aumentar seu poder, sua zona de influência, fechando o cerco ao Irã e destruindo qualquer possibilidade de ajuda de aliados dizimados. Sabemos que Arábia Saudita e Qatar têm interesses tanto econômicos como religioso em um conflito com o Irã e financiam grupos mercenários e terroristas para que assim possam impor suas práticas religiosas fundamentalistas, suas vontades econômicas, obrigando a um novo governo submisso a suas vontades, e de seus aliados a aceitarem a passagem de um gasoduto que levaria seu petróleo e gás para a Europa e Israel, sem indenizar ou contribuir com o povo Sírio.

Já Estados Unidos e Europa dependem do petróleo e para isso estão dispostos a financiar, inventar guerras para poder ter petróleo e reservas minerais e naturais, ampliando ainda mais sua zona de poder e influência, com a desculpa de levar democracia a esses povos. Contudo, analisando a “democracia americana”, “levada” para Líbia, Iraque e Afeganistão, veremos o que espera pela Síria e Líbano, entre outros. Mas, com certeza, esses países não sucumbirão a esse tipo de pressão e ataques. Seus povos estão ao lado tanto do presidente Bashar Al-Assad, quanto do Hezbollah. Basta ver pesquisas realizadas por institutos contratados pela imprensa Europeia, que apontam que Bashar se reelegeria com mais de 85% dos votos do seu povo, ou até mesmo na rodada Genebra-2, que trata do futuro Sírio, a exigência da “oposição” na saída do presidente Sírio, vemos nesta atitude o medo desta “oposição” em enfrentar o presidente e sofrer uma derrota fragorosa e vergonhosa nas urnas.

No Líbano, o povo vem se unindo contra esses ataques covardes que atingem, orfanatos, bairros residências, escolas entre outros locais com grande número de civis, com o único intuito de fazer o maior número de vítimas de maneira covarde, cruel e impiedosa sem dar chance de defesa, a crianças, adultos, idosos, mulheres, como vimos na história recente do Líbano que nos mostra um povo guerreiro, batalhador, que derrotou muitos inimigos, nunca se afligindo ou se acovardando perante os inimigos mesmo ele sendo interno ou externo, com certeza vencerá mais esse desafio e junto da Síria se reconstruirão e sairão ainda mais fortes do que eram.

*Formado em Relações Internacionais pela Universidade Tuiuti do Paraná com especialização em Relações Internacionais e Geopolítica pela mesma instituição.