IMAM ALI IBN ABI TÁLIB (a.s.)

Nasceu na cidade sagrada de Meca, no dia 13 de Rajab, durante o ano de 600 d.C, isto é, trinta anos após o nascimento do Profeta Mohammad (s.a.a.a.s.).

Seu pai foi Abd Manáf, mais conhecido por Abi Táleb, xeique – líder – dos nobres e a segurança do Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s), tendo-o criado após a morte de seu avô, Abdel Muttáleb, que cuidou do Profeta (s.a.a.a.s.) até os oito anos de idade. Abu Táleb era irmão de Abdallah Ibn Abdel Muttáleb, genitor do Profeta Mohammad (s.a.a.a.s.) e foi para o pequeno órfão o melhor dos tutores e o seu mais perseverante protetor contra os idólatras que o perseguiam, quando ele iniciou sua missão na divulgação do Islã e da Mensagem de Deus.

A mãe do Imam Ali foi Fátima Bent Assad Ibn Háchem, a qual foi uma das primeiras a crer no Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.). Era tida como uma mulher excepcionalmente sábia pela sua índole e carinho para com o Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.). Cuidou dele com especial desvelo, privilegiando-o aos próprios filhos, defendendo-o contra as injustiças. O profeta Mohammad (s.a.a.a.s.) dizia: “Ela é minha mãe, depois de minha mãe”. Quando ela morreu, o Profeta (s.a.a.a.s.) chorou muito, envolvendo-a com a própria camisa ao ser enterrada e rezando por sua alma pronunciando o Takbir (“Allahu Akbar”, ou “Deus é o Maior”) por setenta vezes.

O Abençoado Nascimento 

Quando Fátima Bent Assad sentiu as primeiras contrações por estar grávida de Ali (a.s.), dirigiu-se à Caaba e começou a orar a Deus Supremo em oração fervorosa para que Ele lhe facilitasse a concepção de seu filho: “Oh, Senhor! Eu creio em Ti e em tudo que de Ti veio por meio dos Profetas e dos Livros Sagrados, bem como creio nas palavras de meu avô, Abraão, como creio que ele foi o construtor da “Velha Casa” (nome dado à Caaba antes do Islam). E pelo direitos de quem construiu esta Casa e daquele que ainda se encontra em meu ventre, peço humildemente facilitar a minha concepção!”

Nem acabara sua oração, as paredes da Caaba se abriram e ela adentrou. Em seguida, as paredes voltaram ao seu estado normal. As pessoas tentaram abrir o cadeado da Porta do Templo de Deus, mas foi em vão. Por fim, todos entenderam que era pela vontade de Deus Supremo que o nascituro viesse à luz na Casa mais pura e sagrada do mundo.

Fátima Bent Assad permaneceu dentro da Caaba por três dias, comendo dos frutos do paraíso; e no quarto dia, ela saiu dali carregando seu filho nos braços.

O Imam Ali Ibn Abi Táleb (a.s.) foi o primeiro e o único ser humano que nasceu na Caaba e jamais alguém após ele mereceu tanta magnificência de Deus Glorificado e Sublime, pela sua grandiosidade e elevada posição junto d’Ele. Esta criança foi também a primeira a receber o nome de “Ali”, que significa “O Mais Elevado”.

Seu desenvolvimento 

O Imám Ali (a.s.) teve o amparo e a educação do Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.), o qual, apesar de já casado com Khadija Bent Khualeid, freqüentava com assiduidade a casa do tio, Abi Táleb. Nestas ocasiões, o Profeta (s.a.a.a.s.) brindava seu priminho, com especial atenção e carinho, mimando-o quando ele acordava e carregando-o com ternura e afeto, balançando-lhe o bercinho a fim de fazê-lo dormir, como se Ali (a.s.) fosse o seu próprio filho amado.

Quando o Imam Ali (a.s.) atingiu a idade de seis anos, Coraich – a tribo dominante em Meca – estava em séria crise econômica. Abi Táleb já possuía muitos filhos e então, o Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.), para amenizar a situação de seu tio, propôs-lhe a guarda e a educação do pequeno Ali (a.s.), levando-o para sua casa, onde o garoto cresceu e se desenvolveu.

O Imam Ali (a.s.) sempre trazia estes momentos à lembrança, dizendo: 

“Vós sabeis do meu conceito por meio do Mensageiro de Deus, o qual o abençoou e à gente de sua casa, pelo estreito parentesco e a posição especial, e que me carregava no colo quando eu era menino, abraçava-me, acarinhava-me paternalmente e fazia-me dormir em seu leito. Quantas vezes ele mastigou a comida e me alimentou! Jamais o decepcionei com mentiras e tampouco em erros no trabalho. Eu o seguia tal qual o faz a cria que segue o rastro de sua mãe. A cada dia, ele me elevava com seu caráter e conhecimento, exigindo de mim que os cumprisse a risca. Inicialmente, eu era o único que o via se dirigir todo ano para Herá e, na ocasião, não havia um lar que tivesse abraçado o Islam, exceto o Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s), Khadija e eu, que via a luz da Al-Wahí (“A Revelação”) e ouvia a mensagem divina, sentindo o aroma do profetismo”.

Sua Esposa 

Por ordem de Deus, o Profeta Mohammad (s.a.a.a.s.) o uniu em matrimônio a sua própria filha, Fátima “Azzahrá”, conhecida como “Sayidatu Nissá al’Alamin”, ou “Senhora de Todas as Mulheres do Universo” (a.s.); e Deus Glorificado e Sublime assim determinou, para que a descendência do Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.) surgisse por intermédio de ambos; e por seu lado, o Profeta Mohammad (s.a.a.a.s.) falava:

“Deus fez a prole de cada Profeta de sua própria descendência e fez da minha prole pela descendência deste (homem)” – aludindo ao seu primo e genro Ali Ibn Abi Táleb (a.s.).

Em outra ocasião, o Profeta (s.a.a.a.s.) disse: “Todo filho vincula-se ao seu pai, exceto o filho de Fátima, porque eu sou o seu progenitor e seu vínculo”.

Seus filhos 

Ali Ibn Abi Táleb e sua esposa, Fátima Bent Mohammad “Azzahrá” (a.s.), tiveram quatro filhos: os dois Imames Al-Hassan e Al-Hussein (a.s.) e duas meninas, Zeinab e Umm Kulçum (a.s.). Entretanto, após a morte de Fátima (a.s.), o Imám Ali (a.s.) casou-se com várias esposas, tendo delas aproximadamente vinte e três filhos.

Alguns de seus beneméritos 

1. Deus o favoreceu com grandiosa dignidade desde seu nascimento, que ocorreu no Templo Sagrado de Deus, no centro da Caaba; e com esta honra ninguém o antecedeu e nem ocorreu tal fato a alguém depois dele.

2. Cresceu e se desenvolveu no seio do lar do Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s), o qual muito se importou e se empenhou por ele (a.s.).

3. Jamais inclinou-se ou s ajoelhou-se diante de algum ídolo e não adorou outra divindade além de Deus Único.

4. Foi o primeiro a abraçar o Islã, tendo sido o mais antigo em sua fervorosa fé.

5. Quando Deus Supremo ordenou o Seu Profeta (s.a.a.a.s.) a advertir os que lhe eram mais próximos para segui-lo em sua missão, o Profeta (s.a.a.a.s.) reuniu todos e os admoestou,s dizendo: “Aquele de vós que me seguir nessa incumbência será considerado meu irmão, o meu recomendado, o meu ministro, o meu herdeiro e sucessor”. Então, todos silenciaram, exceto o Imam Ali (a.s.), que era, na ocasião, o mais novo do grupo. Ele se levantou, exclamando: “Eu vos seguirei nesta incumbência, óh, Mensageiro de Deus!”. O Profeta Mohammad (s.a.a.a.s) olhou para o primo e disse-lhe: “Sente-se, pois és meu irmão, o meu recomendado, o meu ministro, o meu herdeiro e sucessor depois de mim.”

6. Resgatou o Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s) com a própria vida, ao permanecer em seu leito, quando Deus ordenou ao Seu nobre Profeta (s.a.a.a.s.) para emigrar à cidade de Medina.

7. Quando o Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s) confraternizou os muçulmanos entre os emigrantes (Al-Muhajirin) e os aliados (Al-Ansari) na cidade de Medina, tomou Ali como seu irmão, dizendo-lhe: “És meu irmão nesta vida e na eternidade”.

8. A história testemunha sobre a sua bravura e coragem ímpares e implacáveis na defesa do Islã e seu Nobre Profeta. Não havia uma batalha em que o Imam (a.s.) não tivesse participação fortemente ativa. Tanto que muitos chegavam a ouvir uma voz vinda dos céus, proclamando: “Não há jovem como Ali e não há espada como a Zul Fiqar (apelido da espada do Imam Ali)!”.

9. Ninguém obteve no Islã o que o Imam Ali (a.s.) obteve em louvor e majestade diante de Deus Supremo. Até o Alcorão Sagrado o menciona, tal qual citou Ibn Abbás, sendo também apontado nos ahadith (ditos) do Profeta Mohammad (s.a.a.a.s). O próprio Profeta Mohammad (s.a.a.a.s), por suas palavras e atos, fazia com que o amor por Ali (a.s.) fosse símbolo da fé e o desprezo em relação a ele, sinal de hipocrisia. O Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.) fez do Imam Ali (a.s.) “a porta da metrópole da sabedoria”. Ninguém era tão reconhecido como o foi o Imam Ali (a.s.) em relação ao Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.), dizendo sempre: “Questionai-me antes de me perderem, pois o Mensageiro de Deus abriu-me mil portas de sabedoria e, de cada uma delas, se me abriram em outras mil”.
Eis que citaremos a seguir alguns ahadith do Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.) a respeito de seu primo e genro:

– “Ali está com a justiça e a justiça está com Ali, e ambos não se separarão até o Dia do Juízo Final”;

– “Ali é a porta do meu conhecimento, revelador à minha nação, o que propagará em missão depois que me for. O amor por ele é símbolo de fé e o desprezo por ele é símbolo de hipocrisia”.

– “Ali complementou minha missão”.

– “Para cada Profeta há um recomendado e um herdeiro e Ali é o meu recomendado e herdeiro”.

– “Se os Céus e a Terra estiverem numa escala e a fé de Ali em outra, prevalecer-se-á a fé de Ali”.

10. O Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.) privilegiou-o com o título de “Amir Al-Mu’Minin” (Príncipe dos Crentes) e nomeou-o seu sucessor no dia de “Al- Ghadir”. Em sua homenagem, desceu a revelação do versículo 3 da Surata 5 (“Al Ma’ida”): “Hoje completei para vós a vossa religião; tenho-vos agraciado generosamente, e aponto o Islã por religião”. Na seqüência, o Profeta declarou: “Deus Supremo infligirá o sofrimento sobre aquele que negar a sucessão de Ali, sua glória e omitir o testemunho sobre essa sucessão”.

O acontecimento foi registrado nos livros de história e nas compilações de ditos proféticos, tanto da escola xiita quanto sunita. Após a nomeação de Ali Ibn Abi Táleb pelo Mensageiro de Deus para “Khalifa”, isto é, “Sucessor, Imam e Governante” dos muçulmanos, o Profeta Mohammad ordenou que cada um dos presentes notificasse os ausentes. Certo homem, chamado Al-Hareth Ibn Naaman, não ficando satisfeito com esta decisão, foi ter com o Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.) na Mesquita e disse-lhe: “Oh, Mohammad, tu nos ordenastes que não há divindade além de Deus e que és o Seu Mensageiro e nós aceitamos; nos ordenastes rezarmos cinco orações todos os dias, jejuarmos no mês de Ramadan, peregrinar à Kaaba e pagarmos o Zacat e concordamos com tudo isto; porém, como se não bastasse, agora vens impor-nos o vosso primo como sucessor, preferindo-o a todos os demais dizendo-nos: ‘Aquele de quem eu sou seu soberano, Ali o será também!’ Afinal, isto vem de vós ou vem de Deus?” O Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s) olhou-o firmemente e, com os olhos vermelhos pela indignação, respondeu-lhe: ” Por Deus! Que não há divindade além Dele, que isto é de Deus e não de mim!” repetindo a frase por três vezes. Al-Hareth levantou-se, dizendo: “Por Deus! Se o que Mohammad falou é verdadeiro, que caiam sobre mim pedras do céu ou que se apodere de mim o pior dos sofrimentos!”, saindo dali em seguida. Logo depois, o Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s) contou “… eu vos juro que ele nem chegou a alcançar a sua camela, caiu-lhe do céus uma pesada pedra, atingindo-o em cheio na cabeça, matando-o imediatamente”.

Posteriormente, desceu uma revelação que diz: “Alguém inquiriu sobre um castigo iminente e indefensável para os incrédulos” (Surata Al-Maarej, 70:1 – 2). Muitos teólogos mencionaram o acontecimento e quem quiser ampliar seus conhecimentos, eis que citaremos abaixo algumas fontes:

“Chauáhed Attanzil” de Al-Mascati, Cap. 2, pág. 286;
“Tafsír Al-Thaalaby”, na Surata “Sa-alá sá-elon ben-azáben uáqueen…”, referente aos dois versículos acima;
“Tafsír Al-Qartaby” __ Cap. 18. Pág.278;
“Tafsír Al-Manár”, de Rachid Reda __ Cap. 6, pág.464;
“Yanábi Al-Mauadda”, de Al-Qunduzi Al-Hanifi, pág. 328;
“Al-Háquem”, no que se referiu sobre “Assahihín” (Os Infalíveis), Cap.2 pág.502.

A outra questão que os livros mencionam é sobre a omissão do testemunho ocorrido no episódio de “Al-Ghadir”. Quando o Imam Ali (a.s.) estava na Mesquita de Al-Kufa, durante o seu califado, convocou o povo e falou-lhe do púlpito: “Deus conjurou todo muçulmano que ouviu o Mensageiro de Deus no dia de Al-Ghadir Khom dizer: ‘Aquele de quem eu sou soberano, Ali o será também’”. Uns levantaram-se e confirmaram o que ouviram e outros que ouviram e viram, não se levantaram. Os que se levantaram foram trinta, dos quais dezesseis participaram da Batalha de Badr e divulgaram que o Profeta tomou Ali pela mão e indagou aos presentes: “Sabeis que sou benemérito pelos crentes mais do que eles sobre si mesmo?” E todos responderam-lhe afirmativamente. Então o Profeta Mohammad prosseguiu: “Aquele de quem eu sou soberano, este o será. Deus aprovará quem o aprovar e amaldiçoará aquele que nutrir inimizade com ele”

Entretanto, a inveja e a aversão contra o Imam (a.s.) apossaram-se de alguns dos presentes, os quais presenciaram outrora a reunião de Al-Ghadir Khom e posteriormente omitiram o testemunho sobre a sucessão; dentre eles encontrava-se Anas Ibn Málek. O Imam Ali (a.s.) desceu do púlpito e dirigiu-se a Anãs, questionando-o diante da multidão: “Por que, oh, Anas, não te levantaste com os Asshab (Companheiros) do Mensageiro de Deus e confirmaste o que ele afirmara na ocasião, como o fizeram os demais?”. Encabulado, Anas falou: “Óh, Príncipe dos Crentes, eu estou com a idade muito avançada e já me esqueci deste fato”. O Imam Ali (a.s.) olhou-o de frente e disse-lhe: “Se estiveres mentindo, Deus te punirá com a lepra e o teu turbante não bastará para esconder o teu mal”. Nem acabou Anas de sair na Mesquita e a terrível doença começou a manifestar-se sobre o homem, que lamentava em gemidos: “Deus ouviu a imprecação do servo fiel, porque menti e omiti o testemunho da sua sucessão!”.

Este notável acontecimentos foi mencionado por Ibn Qotaiba, em seu livro intitulado “Al-Maáref”. Também mencionou-o o Imam Ahmad Ibn Hanbal. Em seu livro, no capítulo 1, página 119, ele informa que a demanda do Imam (a.s.) atingiu três pessoas, por terem omitido a confirmação à sua sucessão: Anas Ibn Malek, Al-Barrá Ibn Ázeb e Juair Ibn Abdullah Al-Bajali. Este fato, que os livros históricos mencionam, sucedeu vinte e cinco anos após o acordo de “Al-Ghadir”, para que o Imam Ali (a.s.) reivindicasse diante do povo o seu direito à sucessão e a importância de sua personalidade depois do Profeta Mohammad (s.a.a.a.s.) para que, tanto, no presente como no futuro, soubessem da veracidade dos fatos.

11. Deus o privilegiou para que a descendência do Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.) fosse por intermédio de sua união matrimonial com Fátima “Azzahra” (a.s.), filha do Profeta Mohammad (s.a.a.a.s.).
O Profeta Mohammad (s.a.a.a.s.) disse certa vez: “Toda semente de um Profeta, Deus a conservou em sua descendência, e a minha, conformou-a (a partir) da firmeza deste homem”, aludindo ao seu primo e posteriormente genro, Ali Ibn Abi Táleb (a.s.).

12. O Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.) incumbiu-o da lavagem de seu corpo e apresto, após a sua morte, dizendo-lhe: “Oh, Ali, serás tu quem se incumbirá da minha preparação depois do meu fim”. Quando o Profeta (s.a.a.a.s.) faleceu, o Imam (a.s.) empenhou-se pessoalmente em lavá-lo e prepará-lo para sua viagem derradeira. Após a oração pela alma do Profeta e Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.), Ali (a.s.) sepultou-o no mesmo local onde morreu.

Além do que mencionamos, citam-se vários outros obséquios e infindáveis distinções de elevada hierarquia ao Imam Ali Ibn Abi Táleb (a.s.), apesar dos malefícios praticados contra ele por seus opositores e inimigos, que se empenhavam em extingüí-las e sufocá-las.

O Imam Ali após a morte do Mensageiro de Deus

Foi-se o Profeta Mohammad (s.a.a.s.), deixando atrás de si as suas recomendações declaradamente alusivas a sua sucessão, que deveria ser tomada pelo Imam Ali (a.s.).

Entretanto, ocorreram situações contrárias ao Imam (a.s.) e outros homens se apossaram da sucessão do Mensageiro (s.a.a.a.s.). Mas, o Imam (a.s.) não quis reivindicar os seus direitos na ocasião, para que não houvesse cisão entre os muçulmanos, a fim de preservar a sua união. Com isto, os Assháb reconheceram a sua benevolência e beneplácito. Em consideração ao seu parentesco com o Mensageiro de Deus (s.a.a.s.) e à sua sabedoria ao solucionar a sucessão pacificamente, passaram a procurá-lo para resolver as questões jurídicas, sociais e religiosas do califado. Neste sentido, foi consultado pelo primeiro Califa Abu Bakr, que dizia, conforme relata-nos a história: “Para qualquer problema que me era imposto por Deus, não teria a sua solução sem Abu Al-Hassan” (Uma das alcunhas do Imam Ali (a.s.). O Califa Omar Ibn Al-Khattáb também declarou, pelas soluções apontadas pelo Imam (a.s.) diante de mais de setenta questões jurídicas e ocorrências sócio- econômicas: “Não fosse por Ali, Omar teria sucumbido!”.

Assim, o Imam Ali (a.s.) permaneceu à disposição, mantendo a harmonia entre o povo e o governo da Nação Islâmica por longos vinte e cinco anos, isto é, até o assassinato do terceiro Califa, Othman Ibn Affan.Quando a multidão se reuniu para ajustar com ele a sucessão, o Imam Ali (a.s.) estava decidido a tomar posse de seus direitos no Califado. O Imam (a.s.) deixou bem claro que seguiria à risca a conduta do Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.), respeitando os direitos humanos e estendendo a justiça e a igualdade a todas as pessoas, pois na ocasião o povo convivia com o preconceito e as diferenças entre as camadas sociais, tudo isto contrário ao que o Mensageiro (s.a.a.a.s.) ensinava e propagava.

A Política do Imam Ali (a.s.) na Sucessão 

Foi no ano 35 da Hijra que o Imam Ali (a.s.) tomou posse do Califado, centralizando- a na cidade de Al-Kufa, no Iraque, que passou a ser sua capital.

Seu primeiro empenho foi a supressão do desvio moral, que se apossou da nação islâmica no plano social, econômico, político e religioso, restabelecendo os princípios como tinham sido no tempo do Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.) e implantando a igualdade no trato entre os crentes, sempre dizendo: “O pecúlio é de Deus e será dividido por igual entre vós. Não há prioridade de um sobre o outro”. Demitiu sem exceção todos os corruptos que exerciam cargos públicos e que incompatibilizavam-se com as responsabilidades de sua função, por não procederem com lealdade e justiça, de acordo com os dogmas religiosos.

O Imam Ali (a.s.) impôs a justiça e puniu severamente o suborno no governo e a fraude nos preceitos de Deus, dizendo: “Por Deus! Que serei justo para com o oprimido e julgarei com justiça o seu opressor pela sua insensibilidade, obrigando-o a cumprir pena, mesmo que desagrade a quem quer que seja!”.

Assim foi a política do Imam Ali (a.s.) que, naturalmente, não agradava a todos, principalmente aos gananciosos e baderneiros; sobretudo aos fracos espiritualmente, que não se compatibilizavam com a religião islâmica, os quais tentavam confundir a população e disseminar as suas crenças e práticas corruptas. Entre estes, pessoas como Moáwiya, filho de Abu Sufián, instituído como Governante do Chám (correspondente hoje em dia à região da Síria, Palestina e Líbano) pelo segundo Califa, Omar Ibn Al-Khattab. Ele foi apoiado, posteriormente, pelo terceiro Califa, Othman Ibn Affán, o qual lhe expandiu as fronteiras.

Moáwiya Ibn Abu Sufián perseguia os muçulmanos, incutindo em seus corações o medo e o terror, matando os inocentes, tomando-lhes pela força as mulheres que lhe agradavam e apropriando-se de seus bens.

A morte do Imam Ali Ibn Abi Táleb 

No dia 21 do mês de Ramadan do ano 40 da Hijra, o Imam Ali (a.s.) foi covardemente assassinado com uma espada envenenada pelo vil e fanático criminoso Abdel Rahman Ibn Môljam, enquanto rezava na Mesquita a Oração do Fajr (alvorada), morrendo dois dias depois como mártir pela causa de Deus Onipotente. Seus dois filhos, Al-Hassan e Al-Hussein (a.s.) incumbiram-se da preparação de seu funeral e sepultamento na cidade de Najaf, ao sul da cidade de Kufa, no Iraque, atendendo a pedido dele. Nesta cidade encontra-se o seu túmulo, sendo visitado periodicamente pelos muçulmanos vindo de todas as partes do mundo até os dias de hoje.

1. Seu Eterno Legado

A existência do Imam Ali (a.s.) na Terra foi uma grandiosa escola da vida, caracterizada pelo conhecimento, direito, justiça e igualdade entre os homens de bem. O Imam (a.s.) foi o defensor dos oprimidos privados da sorte, os quais sempre podiam contar com seu senso de justiça e imparcialidade,obtendo a vitória merecida e protegendo-se contra os opressores e malfeitores. O Imam Ali (a.s.) adorava a Deus com extrema devoção e fervor, como o fazia o Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s).

O Imam Ali Ibn Abi Táleb (a.s.) deixou-nos um grandioso legado, constituindo-se em exemplo e luz dos crentes, que por meio dele dirigem-se pelo caminho da orientação, realização e justiça nesta vida terrena.

Depois da sua morte, foram reunidos alguns dos discursos deste magnífico Imam (a.s.). Suas pregações e eloqüente sabedoria, dirigidas a todos os sentidos da vida, foram organizadas e compiladas no livro intitulado “Nahjul Balágha” isto é, “O Tratado da Eloqüência”, pelo importante e grandioso sábio Asharif Arradi, o qual viveu no século quatro da Hijra (século onze do calendário gregoriano), sendo também considerado um dos eruditos nos preceitos dos que descendem de Ahlul Bait, ou seja, a “Gente da Casa”, como é conhecida a Linhagem do Profeta.

2. Coletânea do Alcorão 

Uma de suas mais importantes realizações foi o empenho em reunir as páginas do Alcorão Sagrado após a morte do Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.). A sua coletânea era organizada de acordo com as revelações dos versículos que o Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.) recebia, tendo anexadas a interpretação de seus versículos, seus significados e os motivos de suas revelações.

3. O Livro de Fátima 

É um livro escrito pelo Imam Ali (a.s.) e dedicado a Fátima “Azzahrá” (a.s.), formado por importantes discursos, provérbios diversificados e previsões. Este livro foi escrito e complementado após o falecimento do Profeta Mohammad (s.a.a.a.s.), para que Fátima “Azzahrá” (a.s.) pudesse distrair-se com sua leitura, a fim de amenizar a dor pela morte de seu pai. Desde então, este livro passou a ser conhecido como “O Livro de Fátima”.

4. Assahifa (O pergaminho) 

É o livro jurídico, onde constam as jurisprudências a respeito de crimes de “corpo de delito” – perda de algum órgão humano ou ferimentos – ou de crimes contra os preceitos morais, fossem despropositados ou intencional. Sobre este assunto, escreveu o Imam (a.s.) muitos livros, os quais tornaram-se famosos entre os muçulmanos.

5. “Al-Jáme’a” (Jornada ou Coletânea do Livro Sagrado)

É um livro ditado pelo Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.) para o seu genro, o Imam Ali (a.s.), que reúne as informações sobre as necessidades lícitas do ser humano, bem como o que lhe é ilícito. Envolve conhecimentos da teologia, filosofia, medicina, direito, literatura e até engenharia, detalhado em conformidade com o Alcorão Sagrado no que alude às estruturas que constituem uma sociedade, além de advertências de ordem moral.

É mister ressaltarmos que todos os demais Imames Purificados (a.s.) apoiaram seu raciocínio neste livro, pois seus princípios foram adquiridos por meio de ditames divinos.

6. “Assahifat Al Fará’ed” (O Pergaminho dos Ttributos) 

O Imam Ali (a.s.) registrou na Sahifat Al-Fará’ed os elementos que deve estar presentes nos julgamentos, principalmente no que alude ao patrimônio de uma pessoa e sua partilha quando do falecimento.

7. “Al-Jafr” (A Chave do Conhecimento Profundo) 

A denominação “Al-Jafr” faz alusão a um dos portões (abuáb) do conhecimento por meio dos quais o Imam Ali (a.s.) adquiriu sua erudição do Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.), tendo registrado as sábias palavras do Profeta (s.a.a.a.s.) em pergaminhos de pele de ovinos ou caprinos. Tal conhecimento refere-se aos acontecimentos futuros e a tudo o que os Profetas (a.s.) anteriores ao Profeta Mohammad (s.a.a.a.s.) predisseram por inspiração divina. Os Imames Purificados (a.s.) tomaram-no como herança preciosa.

8. Outras obras do Imam Ali 

O Imam Ali (a.s) registrou diversas obras mencionadas pelos historiadores, tais como os livros intitulados “Os Conhecimentos do Alcorão”, ” As Bênçãos dos Donativos”, “As Portas das Jurisprudências”, entre outros.

Pensamentos do Imam Ali 

“Não há obediência a quem desobedece o Criador.”

“Ó filho de Adão! Aquilo que ganhas acima do teu esforço, estarás armazenando-o para os outros.”

“Gente! Creiam em Deus, o Qual se falardes, Ele vos escutará e se dissimulardes, Ele o saberá; e atentei-vos à morte, pois se fugirdes dela, ela vos alcançará, e se resistirdes a ela, ela vos ceifará e se a esquecerdes, ela lembrará de vós.”

“Perguntaram-lhe sobre a fé e ele lhes respondeu: A fé é o conhecimento no coração, a confissão pela boca e a realização dos pilares (da religião).”

“O dia do oprimido é mais violento para o opressor do que o dia do opressor o é para o oprimido.”

“A paciência se define em duas formas: a paciência em relação àquilo que detestas e a paciência em relação àquilo que desejas.”

“O socorro ao infeliz, pelas abjurações das culpas capitais, é o mesmo que o alívio para o sofredor.”

“Se veio até vossas mãos parte dos donativos, não a repudieis, pela escassez, com a ingratidão”.