POR QUE O HIJAB?

No crepúsculo, duas silhuetas escuras começam a aparecer ao longe, sem nada mais. Um pouco depois, vemos por seus movimentos que são homens.

Então, a primeira implicação que vem à mente é sua humanidade. Eu sei que vou me encontrar com dois seres humanos.

Os objetos escuros chegam mais perto. Agora, podemos estar certos de que um é homem, outro mulher. Esta é a impressão mais fresca na mente, depois de vistos os dois.

A propósito, quanto de nossa aparência afeta a maneira como as pessoas pensam a respeito de nossas crenças e espíritos?

A PRESENÇA ESPIRITUAL DA MULHER NA SOCIEDADE

A maneira como nós nos apresentamos na sociedade determina a qual parte de nosso ser conferimos mais importância e se nós gostamos de ser vistas como seres humanos ou se estamos interessadas em ostentar a nossa feminilidade.

O doutor Gholami, professor na Universidade Imam Sadiq, em Teerã, acredita que: “Se uma mulher deseja apresentar a si mesma, efetivamente, como uma pessoa e alguém com uma posição razoavelmente elevada na sociedade, ela deve providenciar para si algum tipo de cobertura ou véu; dessa maneira, ela proclama a sua presença como ser humano. Dizendo de maneira clara, uma mulher deve estar apta a dizer que aparece na sociedade como um ser humano, não como mulher.”

“Apesar do que é visto em alguns países ocidentais – onde a presença das mulheres na sociedade não decorre do fato de elas serem seres humanos, mas de serem mulheres e de que elas são empregadas porque são mulheres, não porque são seres humanos – as mulheres devem manifestar a sua presença como seres humanos, de acordo com o Islã. Por isso, devem manter sua dignidade; assim outras pessoas não terão a oportunidade de negligenciar ou infringir seus direitos.”

“Quando uma mulher aparece com um véu apropriado, é como se ela estivesse dizendo para as pessoas concupiscentes ou com desejos doentios que ela é uma mulher muçulmana, que não permitirá que ninguém perturbe ou viole sua privacidade ou castidade.”

ÊNFASE NA HUMANIDADE

Um elemento em atenção à necessidade do Hijab, especialmente quanto às mulheres, é a ênfase na sua humanidade acima da feminilidade em suas relações com as pessoas do sexo oposto. As mulheres que usam o Hijab de maneira inapropriada ou muita maquiagem mostram um claro sinal de inclinação e gosto por relações impróprias com o sexo oposto, seja deliberadamente ou de maneira não intencional. Quando aparecem em público usando o Hijab de maneira não apropriada, devem ter em mente que estão pavimentando o caminho da violação do seu direito à privacidade e castidade. Esta é uma razão pela qual os homens ousam violar a castidade e privacidade das mulheres. A presença de uma mulher com uso adequado do Hijab é uma mensagem de “NÃO” a todos aqueles que se permitem o direito de violar as mulheres. Se as mulheres observam o uso correto do Hijab, então os homens saberão que é impossível violar sua castidade. Se são raros os casos de violação de mulheres que usam o véu (Muttahajibah), é porque aquelas que o empregam de maneira incorreta prepararam o terreno para tais violações. Quando um clima geral de pecado prevalece na sociedade, ninguém está a salvo de violações ao seu direito à privacidade e castidade.

Outro ponto importante é prover as mulheres de liberdade individual e tornar possível que elas cresçam e tenham sucesso em diferentes áreas. A atenção excessiva às necessidades físicas priva as mulheres de caminhar na senda da perfeição que o Sistema da Criação destinou a elas. Isso também faz delas presas dos desejos carnais. Apesar de o Hijab ser uma das manifestações de recato, é apenas uma dentre muitas!

MANTER O RESPEITO E O VALOR DAS MULHERES

Continuando sua fala sobre a filosofia do Hijab, Gholami adiciona: “O que é claro sobre a filosofia do Hijab entre os grandes sábios, como Shahid Mottahari, é que ele tem suas raízes em quatro pontos: manter o respeito e o valor das mulheres; oferecer às outras pessoas na sociedade paz de espírito; estabilizar os fundamentos da família; e a estabilidade social.”

“No que concerne à estabilidade social nos seus aspectos relacionais, econômicos, culturais, científicos e políticos, é imperativo que nós observemos o Hijab tanto para os homens quanto para as mulheres.” (1)

No tocante aos aspectos sociais do Hijab, torna-se urgente e necessário observar uma outra obrigação religiosa, que é “ordenar pelo bem e evitar o pecado” (2). “Depois de informar as pessoas sobre o vício e a virtude, vem a admoestação sobre o bem o distanciamento do mal. Isso quer dizer, se alguém transgride certos limites, todos devem exortá-lo a fazer o bem e evitar o mal”.

Num âmbito mais amplo, a autoridade governamental deve, quando as exortações das pessoas não são suficientes, tomar ação. Ainda assim, tomar ação, seja pelas pessoas ou pela autoridade, tem de ser feito levando em consideração mudanças mentais. As etapas para promover a virtude e prevenir o vício são as seguintes: a primeira delas é que a pessoa torna-se descontente; ele/ela torna-se descontente em relação ao seu destino. Os membros da sociedade sentem-se angustiados porque sabem que uma pessoa que não observa o uso do Hijab está causando problemas para o meio em que homens e mulheres vivem, bem como às gerações vindouras.

A NECESSIDADE DE CONSTRUIR CULTURAS

“Nesta etapa, o Islã ordena que nós tentemos convencer as pessoas, usando uma fala suave e lembrando-as continuamente sobre a filosofia do Hijab.”

“No próximo estágio, que significa tomar ação, não há algo como demonstração de força. Força só deve ser usada como último recurso. No estágio da tomada de ação, nós devemos, primeiramente, propagar a idéia correta. A televisão, o rádio e demais organizações do estado devem divulgar a importância do uso correto do Hijab.”

“Nós, então, usamos admoestações orais, que se mostram úteis na maioria dos casos; em seguida, deve-se fazer as pessoas assumirem o compromisso de que não errarão novamente. Se, ainda assim, elas mantiverem o objetivo de causar desordem, será necessário tomar atitudes que evitem mais dissensões.”

As partes do corpo que podem ser mostradas por uma mulher são o rosto e suas mãos, do punho aos dedos. A maquiagem das mulheres não deve ir além da prática comum. Esta noção de Hijab é, quanto a isso, apenas parte de um conceito muito mais amplo.

O véu é apenas uma das formas do verdadeiro Hijab. O que se pode concluir dos ensinamentos religiosos e dos versículos corânicos é que a abstenção de gestos e falas provocativas são extensões dos conceitos de Hijab e recato.

Vejamos, mais uma vez, a opinião do Dr. Gholami sobre isso: “O recato é um assunto tão importante entre os ensinamentos religiosos que nós entendemos, a partir das narrações islâmicas, que uma pessoa não pode dizer que tem uma religião a menos que pratique o recato em seu comportamento. A questão é: qual a relação entre Hijab e recato? Pode alguém alegar que as pessoas são recatadas se têm um véu religiosamente bom? Hijab é apenas uma manifestação do recato; ou seja, se alguém tem um bom véu, pode, então, alegar que cumpriu uma parte dos padrões de recato, e esta é apenas a aparência do Hijab. Hijab, contudo, não se restringe ao véu externo; nós também devemos ter recato no modo de olhar e no coração”.

À PROCURA DE ALGUÉM PERDIDO NA TERRA

O recato e a reverência de seu ser subjugaram-me,
Nada que tenha sido feito pelas mãos do homem tem força suficiente para tirar-lhe o Hijab,
Nenhuma pessoa imprudente ousaria dar uma olhada cobiçosa em sua direção.
Por isso ela anda firmemente.
Ela tem seus olhos fixos no chão, como se estivesse à procura de alguém perdido.
Ela ficou marcada na memória como a mais pura e casta mulher.

NOTAS:

(1) Neste artigo, o termo “hijab” é utilizado em um conceito mais amplo, qual seja, o de vestir-se e apresentar em público com modéstia, uma recomendação que o Islã faz tanto às mulheres quanto aos homens. No ocidente, as pessoas estão acostumadas com um conceito mais restrito de “hijab”, que tende a relacioná-lo, somente, ao véu feminino. (NT).
(2) Mandamento fundamental da Doutrina Islâmica. Em árabe: “Al-amr bil’ma’aruf wa annahi ‘anil munkar” (NT).

Fonte: Mahjubah – The Islamic Family Magazine; Ramadã 1428/setembro 2007; vol. 25; nº 9.

Tradução: Ibei