Ayatollah Assaiyed Mohammad Hussein Fadlullah

“Em nome de Deus, o Clementíssimo, o Misericordiosíssimo”

Ao detalhar as virtudes das pessoas piedosas, a quem Ele prometeu o Seu Paraíso, Allah diz: “(Estes) são os que contêm a sua raiva e perdoam (todos) os homens; pois Allah ama aqueles que fazem o bem”.

Esta virtude – conter a raiva – é um comportamento social que deve ser praticado no relacionamento entre as pessoas, tanto entre indivíduos quanto entre grupos. Por meio dela, uma pessoa pode evitar uma calamidade, bater ou até matar o outro como expressão de sua raiva. Nas relações familiares, por exemplo, nós podemos perceber que quando um homem se divorcia de sua esposa, se ele está furioso por alguma de suas ações, ele pode destruir a família inteira.

Quando uma pessoa fica com raiva, ela perde o controle e se desvia do Caminho Reto, ficando descontrolada e agindo por instinto, exigindo vingança. O Satanás interfere, sugerindo que, se a pessoa não tomar alguma atitude quando ofendida, será humilhada.

Mas, Allah não quer que o muçulmano seja controlado por sua raiva ou instinto. Ele quer que a pessoa aja com base em seu raciocínio e calcule o bem e o mal existente em cada ação que ele vai tomar, antes de decidir reagir contra uma ofensa. É por isso que o Alcorão descreve os crentes como aqueles que “respondem ao mal com o bem” e aqueles que “repelem o mal com aquilo que é melhor”.

Mas, conter o temperamento de alguém não é tão fácil, uma vez que se a pessoa não se vinga, ela pode ser acusada de ser covarde ou de aceitar a humilhação.

A Moral de Ahlul Bait* (a.s.)

Uma vez, o Imam Zein Al-Abidin (a.s.) estava sentado com seus companheiros, quando um dos seus parentes, que o odiava, aproximou-se e disse coisas inapropriadas. O Imam ficou em silêncio até que o homem terminasse seus impropérios e fosse embora. O Imam, então, disse aos seus companheiros: “Vamos acertar nossas diferenças com ele”. Os companheiros provavelmente imaginaram que ele estava contando com a sua ajuda, mas quando eles o ouviram recitar a Alayah (versículo): “que contêm a sua raiva e perdoam (todos) os homens; pois Allah ama aqueles que fazem o bem”, entenderam que ele não queria feri-lo. Então, quando encontraram o homem, o Imam (a.s.) disse:

“Irmão, eu ouvi tudo o que você disse a meu respeito. Se o que você disse é verdade, então eu peço a Allah para que me perdoe, mas se não for, então que Allah te perdoe”. O homem percebeu quão errada tinha sido sua atitude e disse: “Allah sabe onde colocou a Sua mensagem”.

O Imam Zein Al-Abidin foi ofendido por um de seus inimigos, mas não respondeu. O homem se sentiu ultrajado e disse: “Eu estou falando com você”. O Imam disse: “E eu o estou ignorando”. Esta é a Moral de Ahlul Bait, a Moral da perfeição na espiritualidade e na piedade.

Havia um homem em Medina que costumava ofender o Imam Al-Kazem (a.s.), distorcendo sua imagem a tal ponto que os companheiros do Imam pediram permissão para falar com ele. No entanto, o Imam os proibia de machucá-lo. Então, um dia, o Imam (a.s.) foi ao jardim do homem. Quando este o viu, disse: “Não pise em minhas plantas”, pois ele estava tão furioso que nem sequer teve a cortesia de dar-lhe as boas-vindas. O Imam (a.s.) continuou a mover-se em direção ao homem. E quando ele se aproximou, perguntou-lhe: “Quanto você pagou por suas plantas e quanto você espera receber?” O homem fez as contas, o Imam deu-lhe o dinheiro e disse: “Pegue este dinheiro e você ainda pode vender os grãos”. Então, continuou falando a ele de forma cortês. O homem sentiu-se culpado e mudou sua atitude em relação ao Imam. No dia seguinte, o homem foi à mesquita. Quando ele viu o Imam (a.s.) vindo em sua direção, disse: “Deus sabe onde coloca a Sua mensagem”. Perguntado sobre o que havia mudado a sua atitude, ele disse que havia sido a maneira como o Imam havia agido em relação a ele. O Imam, então, indagou aos seus companheiros: “Qual é a melhor maneira de lidar com uma pessoa: usando a violência ou do meu jeito?”.

Esta é a moral de Ahlul Bait, inspirada nos ensinamentos corânicos e aplicada em todo o seu comportamento. Eles são o “Alcorão falante”. É por isso que as pessoas costumam ouvir a Alayah que exorta à contenção da raiva, incorporando-a ao seu comportamento, como o fez o próprio Profeta (s.a.a.a.s.). Vejamos como elas (a.s.) entendem estes princípios e os aplicam em seu quotidiano:

O Mensageiro (s.a.a.a.s) diz: “Um dos melhores caminhos para alcançar Allah é conter a raiva por meio da indulgência e ser paciente face à catástrofe”. O Imam Zein Al-Abidin (a.s.) diz que admira o homem que controla sua raiva, seja ele confrontado por sua esposa ou filhos, ou um empregado que seja importunado por seus patrões, ou um vizinho que seja confrontado por outros vizinhos… Quando a pessoa é confrontada em qualquer uma destas ocasiões, mantém sua calma.

O Imam Al-Báquer (a.s.), cita o Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s): “Allah, o Mais Exaltado, ama o tímido (quando a situação convida à rudeza), a paciência e a virtude, especialmente em relação aos pertences dos outros”. O Imam Assádeq (a.s.) diz: “O servo que controla sua raiva será recompensado tanto neste mundo quanto no outro, quando entrará no Paraíso”. O que é melhor: explodir ou controlar a raiva, ganhando um lugar no Jardim de Allah? O Imam Arreda (a.s.) diz: “Um homem não será dos crentes enquanto não se tornar paciente…”.

Estes são os pilares dos valores morais islâmicos. E isto é o que faz um homem receber a satisfação de Allah e ganhar a recompensa do Paraíso. Se o Satanás tenta seduzir uma pessoa a expressar a sua raiva, ela deve lembrar-se que é melhor controlá-la e conquistar um lugar no Paraíso, onde o homem terá felicidade absoluta e o êxtase da satisfação de Allah.

* Ahlul Bait (literalmente “A Gente da Casa”) corresponde ao próprio Profeta Muhammad (s.a.a.a.s), sua filha, Fátima Azzahrá (a.s.), seu marido, o Imam Ali (a.s.), seus filhos Al-Hassan e Al-Hussein (a.s.) e a toda a sua descendência. São uma fonte iluminada de conhecimento e piedade islâmica.