O 3° Imam – Al-Hussein Ibn Ali – “Senhor dos Mártires”

Nasceu na cidade de Medina, região do Hijáz, correspondente ao atual território do Reino da Arábia Saudita, no dia 3 do mês de Chaaban do ano 4 da Hijra (627d.C). Por ordem de Deus Supremo, o Mensageiro de Deus (s.a.a.as.) chamou-o de Al-Hussein. Então, tomou-o nos braços e sussurrou em seu ouvido direito o Azan (chamamento para a oração) e no esquerdo o Iqamat (repetição do Azan), quando os anjos, acompanhados do Arcanjo Gabriel, surgiram diante do Mensageiro (s.a.a.a.s.) e felicitaram-no pelo abençoado nascimento.

No sétimo dia, mandou abater, em homenagem do segundo neto um carneiro, tal como fizera com o primeiro neto, o Imam Al-Hassan (a.s.).

Seu pai foi o Imam Ali Ibn Abi Táleb (a.s.), o recomendado do Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.).

Sua mãe foi Fátima “Azzahrá” (a.s.), Senhora das Mulheres do Universo e filha do Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s).

Seu avô materno foi Mohammad Ibn Abdallah, Mensageiro de Deus e último dos profetas (s.a.a.a.s.).

Sua avó materna foi Khadija Bent Khuaileid, (a.s.), a Mãe dos Crentes.

Seu avô paterno foi Abed Manaf Ibn Abedel Muttâleb, mais conhecido como Abu Táleb, sheikh dos nobres e protetor do Mensageiro de Deus (Deus o abençoou e a sua Linhagem e os saudou).

Seu avô paterno foi Abed Manaf Ibn Abedel Muttâleb, mais conhecido como Abu Táleb, sheikh dos nobres e protetor do Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.).

Seu desenvolvimento

O Imam Al-Hussein (a.s.) desenvolveu-se e cresceu sob a sombra de seu avô, do qual absorveu o ensino do Islã, beneficiando-se também da educação que obteve de seu pai, o Imam Ali, e de sua mãe, Fátima “Azzahrá” (a.s.), juntamente com seu irmão mais velho, Al-Hassan (a.s.). Ambos são considerados a verdadeira Linhagem da Casa Profética, da Revelação e do Al-Wahi, isto é, da “Revelação”.

Seu Benemérito

O Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.) fez muitas alusões sobre seus méritos e os méritos de seu irmão, Al-Hassan (a.s.), dizendo:

__ “Por Deus que os amo e amo aqueles que os amam!”

__ “Aquele que ama Al-Hassan e Al-Hussein, amo-o também, e a quem eu amo, Deus o ama; e quem Deus ama, Ele fará entrar no Paraíso. Porém, quem os desprezar, eu o desprezarei, e quem eu desprezar, Deus o desprezará, e quem Deus desprezar, o lançará no inferno!”

__ “Al-Hussein é de mim e eu sou de Al-Hussein!”

__ “Al-Hussein é o neto dos netos!”

__ “Deus o escolheu para que os justos e beneméritos Imámes sejam da sua semente!”

Seus Filhos

Al-Hussein (a.s.) teve nove filhos, sendo seis do sexo masculino e três do sexo feminino, gerados através de várias esposas.

Seu Ministério

O Imam Al-Hussein (a.s.) tomou posse do Poder depois da morte, como mártir, de seu irmão, o Imam Al-Hassan (a.s.), prolongando-se seu Imamato por onze anos, de 50 a 61 da Hijra (aproximadamente do ano de 672 até 683 d.C).

A seguir, citaremos parte dos acontecimentos ocorridos durante a época do Imam Al-Hussein (a.s.):

1. Moáuiya Ibn Abu Sufián permaneceu no califado de Damasco, após a morte do Imam Al-Hassan (a.s.) por mais dez anos, enquanto o Imam Al-Hussein (a.s.) honrava os acordos ajustados entre seu irmão (a.s.) e Moáuiya.

2. Entretanto, a tirania de Moáuiya aumentara sobre os muçulmanos, perseguindo-os com o terror e a opressão e matando todo aquele que se tornara obstáculo em seu caminho. Além disso, ordenou que se trouxesse à tona a lembrança do Imam Ali Ibn Abi Táleb (a.s.), durante as oratórias nos púlpitos, com sarcasmo e mordacidade, modificando, inclusive, muitos dos hinos religiosos.

3. Moáuiya nomeou seu filho, Yazid, como sucessor e governante dos muçulmanos, apesar de sua fama de devasso e blasfemo, sátiro das coisas sagradas e praticante de tudo que é vedado e ilícito diante de Deus Supremo.

4. Quando Moáuiya morreu, no ano 60 da Hijra (683 d.C), seu filho, Yazid, tomou posse do Poder. Imediatamente, escreveu a todos os governadores das províncias para reconhecê-lo, obedecê-lo e defendê-lo com a própria vida e as próprias finanças, determinando executar todo aquele que se opusesse.

5. Dentre as Províncias notificadas, Yazid escreveu também para o governador de Medina, a fim de que notificasse a missiva e seu teor ao Imam Al-Hussein (a.s.). Caso ele (a.s.) contestasse o seu conteúdo e ordens, deveria ser executado, nem que fosse pendurado no cortinado da Caaba, apesar de ela simbolizar a Unicidade de Allah e ser a Casa Sagrada de Deus, local onde o Onipotente proibiu terminantemente a agressão e o derramamento de sangue.

6. O Imam Al-Hussein (a.s.) recusou-se a acatar e obedecer as ordens de Yazid, dizendo: “Somos da Linhagem da Casa Profética. Somos da fonte da Mensagem de Deus e da Revelação dos anjos; Yazid é um homem devasso e escandaloso, que se embriaga com a bebida alcoólica. Portanto, um homem como eu nem sequer negocia com outro como ele”. A recusa do Imam Al-Hussein (a.s.) foi declarada diante da multidão, desencadeando a sua revolta contra o governante cruel.

7. O Imam Al-Hussein (a.s.) decidiu sair da Preciosa Meca, juntamente com sua família e seus amigos, com destino ao Iraque, para que seu sangue não fosse derramado na Caaba Sagrada e em obediência à ordem divina, que o alertava contra a ingratidão. Ele (a.s.) comunicou ao povo iraquiano a mensagem que dizia: “Saio de Meca por minha livre e espontânea vontade, sem descontentamento ou revolta, mas sim para a conciliação e a harmonia da nação do meu avô, o Mensageiro de Deus (s.a.a.a.s.), e de meu pai, Ali Ibn Abi Táleb (a.s.)”.

8. O Imam Al-Hussein (a.s.) mandou a mensagem por meio de seu primo, Muslim Ibn Aquíl, homem integro e valente, o qual se dirigiu diretamente para Al-Kufa, notificando o povo, que prometera seu apoio e a vitória para o Imam Al-Hussein (a.s.).

9. Yazid Ibn Moáuiya ordenou ao governador do Iraque, Ubaid’Allah Ibn Ziád, que tomasse as providências mais drásticas contra o povo de Al-Kufa, caso houvesse qualquer contrariedade ao seu arbítrio, executando todo aquele que tentasse fazer triunfar o Imam Al-Hussein (a.s.). Ordenou que fosse preparado um poderoso exército, comandado por Omar Ibn Saad, para investir contra o Imam (a.s.), caso este se recusasse mais uma vez a apoiar o filho de Moáuiya Ibn Abu Sufián. Yazid prometeu a Ubaid’Allah Ibn Ziád alta posição social, maior poder e somas fabulosas em dinheiro se ele matasse o Imam Al-Hussein (a.s.), sua família e seus companheiros.

10. Quando o Imam Al-Hussein (a.s.) chegou à região de Karbalá e viu-se sitiado no deserto, às margens do rio Eufrates, tentou dialogar com seus adversários, alertando-os de sua posição e parentesco com a filha do Profeta Mohammad (a.s.), questionando-os sobre os motivos que os levaram para guerrear contra ele e matá-lo, junto com os seus. Infelizmente foi em vão, pois nada os demovia de seu intento. Diante da intransigência do inimigo, o Imam (a.s.) e seus companheiros enfrentaram com fé e coragem uma luta feroz e desigual, no dia 10 de Muharram do ano 61 da Hijra, apesar de esse mês ser tido como sagrado, tendo Deus Altíssimo proibido nele as lutas e as guerras.

Naquele fatídico dia, o Imam Al-Hussein (a.s.) foi barbaramente assassinado, juntamente com seus bravos companheiros e irmãos. Ao grupo foi proibido o acesso à água, em região desértica e escaldante, não tendo sido poupadas sequer as mulheres e crianças, deixando-as no desespero da sede. Posteriormente ao massacre, apoderaram-se de seus valores e queimaram suas tendas. Nem os recém-nascidos escaparam da barbárie hedionda daquele exército enlouquecido e famigerado. Como se não bastasse, amarraram o corpo do Imam Al-Hussein (a.s.) ao seu cavalo e o arrastaram impiedosamente pelo campo de batalha, para depois cortarem a cabeça de todos os combatentes mortos, afixando-as na ponta de suas lanças, a fim de exibi-las pelas ruas de Al-Kufa, juntamente com os prisioneiros em procissão, formados de mulheres e crianças, para depois levá-los até Yazid Ibn Moáuiya, em Damasco. Este colocou a cabeça do Imam Al-Hussein (a.s.) diante de si e começou a cutucar com um bambu a boca e os dentes da cabeça decapitada, sem o mínimo respeito, todo ufano e exaltado de alegria, tal qual se procedia no tempo do pré – islamismo (“jahilyia”), aspirando que seus ancestrais pagãos pudessem presenciar o que estava acontecendo à descendência do Mensageiro de Deus.

Os corpos do Imam Al-Hussein (a.s.), de seus irmãos e companheiros permaneceram no campo de batalha em Karbalá por três dias, sob o sol abrasador do deserto, até que o Imam Ali Ibn Al-Hussein, juntamente com um grupo de homens que viviam perto de Karbalá, dos Bani Assad, trataram do sepultamento do Imam (a.s.) e dos mártires (a.s.), o que ocorreu naquele mesma localidade sagrada de Karbalá reservando um lugar especial para as sepulturas de seu pai, Al-Hussein (a.s.), e de seu tio, Al-Abbás Ibn Ali Ibn Abi Táleb (a.s.), e isto, pela posição que Al-Abbás (a.s.) obteve junto a Deus Supremo, por defender a justiça e o triunfo de seu irmão.

O papel da mulher na Revolução do Imam Al-Hussein

Antes de ir à luta contra o inimigo que os sitiava, o Imam Al-Hussein (a.s.) deixou os de sua casa e sua prole a cargo de seu filho, o Imam Ali Ibn Al-Hussein (a.s.), e de sua irmã mais velha, Zeinab bint Ali Ibn Abi Táleb (a.s.).

Quando o Imam Ali Ibn Al-Hussein (a.s.) foi acometido de uma grave doença, impossibilitando-o de se levantar de seu leito, sua tia Zeinab (a.s.), foi encarregada de cuidar dele. Esta grandiosa senhora, reconhecida pela sua íntegra moral, fervorosa fé e pela eloqüência da palavra, teve papel importantíssimo na defesa do Imam Ali Ibn Al-Hussein (a.s.) e nos cuidados para com a sua família. Ela foi magnífica na divulgação dos ideais da Revolução de seu irmão, o Imam Al-Hussein (a.s.) e na denúncia das estratégias vis dos Omíadas e seus subterfúgios utilizados para falsear os princípios do Islã. A oratória de Zeinab (a.s.) na cidade de Al-Kufa, diante do ambicioso e ganancioso Obaid’Allah Ibn Ziád, e na cidade de Damasco, diante do cruel e déspota Yazid Ibn Moáuiya, foi maravilhosa e reverbera até hoje no coração dos muçulmanos verdadeiros, retratando o papel da mensagem islâmica, segundo o qual toda mulher muçulmana deve atuar na sociedade em que vive. Alguns exemplos de sua marcante atitude:

__Depois do hediondo massacre no campo da batalha, em Karbalá, Zeinab bint Ali Ibn Abi Táleb (a.s.) começou a andar entre os corpos dos mártires com paciência, dignidade e resignação, até chegar ao corpo do Imam Al-Hussein (a.s.), seu irmão já decapitado e com os músculos dilacerados pelas patas dos cavalos. Com infinita tristeza, colocou suas generosas mãos debaixo do corpo imaculado de seu dileto irmão (a.s.) e levantou a própria cabeça aos céus, clamando com a voz cortante pela profunda mágoa: “Senhor! Aceite esta hóstia para a Vossa Face generosa, se isto for de Vosso agrado!”

__ Zeinab Bent Ali Ibn Abi Táleb (a.s.) teve posição corajosamente confirmada na cidade de Al-Kufa, quando enfrentou com altivez e dignidade o governador do Iraque, Obaid’ Allah Ibn Ziád, e em Damasco, o governante Yazid Ibn Moáuiya, dialogando com ambos sempre com dinamismo, sempre usando o seu hijab, sem nunca perder a compostura que Deus lançou sobre ela, principalmente quando o vil Obaid’Allah Ibn Ziád a questionou cínica e sarcasticamente: “O que me dizes do feito de Deus sobre o teu irmão e o infortúnio que recaiu sobre a cabeça dos teus?” Altiva e firme, ela lhe respondeu: “Só vejo coisas lindas no que ocorreu àquelas pessoas; foi-lhes prescrito por Deus para serem mártires, pois assim eles se revelaram e confirmaram suas raízes! Óh, filho de Morgana, virá o dia em que Deus nos reunirá com eles e vos pedirá prestação de contas, e então sentirás na própria alma qual de vós ficará paralisado e despojado da ternura da própria mãe… Óh, filho de Morgana! [ pronunciando o nome de sua mãe com desprezo, pois o pai dele, Ziád, era filho de uma serva dos idolatras de Taif (cidade de veraneio do Hidjáz), chamada Somaya; quando Ziád cresceu, Moáuiya declarou-o seu irmão, nomeando-o depois governador do Iraque, casando-o depois com uma escrava adoradora do sol, chamada Morgana, que dele concebeu um filho, chamado Obaid’Allah].

Entretanto, quando se defrontou com Yazid Ibn Moáuiya, em Damasco, e diante de todos, Zeinab (a.s.) revelou-se com maior energia e vigor, surpreendendo-o, pois o tirano usurpador do poder imaginava deparar-se com uma mulher frágil, totalmente arrasada por ter sido despojada de seus três filhos e dos entes queridos, todos barbaramente massacrados e assassinados no campo de batalha de Karbalá; Zeinab bint Ali Ibn Abi Táleb (a.s.) notabilizou-se pela coragem e pela justiça, tal como seu pai, o Príncipe dos Crentes, o Imam Ali ibn Abi Táleb (a.s.). Em seu longo discurso, lançou sobre Yazid todo o seu desprezo, diminuindo-o e ameaçando-o, dizendo: “… e por Deus, ó Yazid! Tu na verdade cortaste a tua própria pele e feriste a tua própria carne e terá que responder ao Mensageiro de Deus com coerência sobre tudo o que praticaste ao derramar o sangue de sua descendência e profanar as mulheres de sua Casa e de sua prole, que são sangue de seu sangue e carne de sua carne. Com certeza, Deus os reunirá e lhes fará justiça… e eu te conjuro de que, apesar de passar de mim o destino, eis que me encontro diante de ti, para que eu possa te enquadrar na condição de tua categoria menor e proclamar diante do mundo a tua infâmia e aumentar a tua desmoralização. Porém, naturalmente, sinto-me com os olhos mergulhados na tristeza e o peito vazio, por pretenderes tomar-nos por ovelhas. É deveras de se surpreender ao preterires e dizimares o Partido de Deus (Hizbo’llah), favorecendo o ímpio Partido de Satanás (Hizbo’shaitan)! E estas tuas mãos estão pingando do nosso sangue e a tua boca devora nossa carne por tomar-nos por ovelhas, e isto, podes crer, te custará pesado tributo, quando somente encontrarás aquilo que tuas mãos ofereceram e vagarás em densas trevas e, por mais que te empenhes em tua astúcia e te empertigues com todo o teu poder, jamais conseguirás apagar da nossa memória os atos vergonhosos que praticastes contra nós. Pensas que conseguirás escapar do julgamento do Convocador no dia da tua morte? Sim! Ele te convocará. Saibas, ó criatura vil, de que a maldição recai sobre os tiranos e opressores”.

Tanto Zeinab quanto Umm Kulthum, ambas filhas do Imam Ali Ibn Abi Táleb e de Fátima “Azzahra” (a paz esteja com elas) empenharam-se em propagar e desmascarar o crime hediondo praticado pelos Omíadas contra o neto do Mensageiro de Deus (a.s.), fazendo com que o povo lamentasse e chorasse perda tão preciosa. Inclusive o Imam Ali Ibn Al-Hussein (a.s.) teve papel importante nesta justa divulgação, o qual relataremos ao nos referirmos a sua vida.

Em homenagem póstuma à memória do Imam Al-Hussein (a.s.) e a sua Revolução, culminada no dia 10 de Muharram do ano 61 da Hijra (683 d.C), os muçulmanos – particularmente os xiitas – rememoram todo ano este dia tão funesto, para que não seja esquecido o levante que custou o sangue do Imam Al-Hussein (a.s.), a fim de que sejam preservados na memória dos crentes os princípios do Islã e as lições de coragem, sacrifício e renúncia em prol da justiça e consolidação dos ensinamentos de Deus e seu magnificente preceito.

Os Versículos iluminados sobre a Nobre Cabeça {de Al-Hussein (a.s.)}

Muitos fatos ocorreram, alusivos à magnificente nobreza da cabeça decapitada do Imam Al-Hussein (a.s.), durante o trajeto de Karbalá até Al-Kufa e depois para Damasco. Enquanto os inimigos arrastavam atrás de si, sob sol escaldante do deserto, o grupo de prisioneiros, formado de mulheres e crianças, das quais constavam os filhos do Imam Al-Hussein (a.s.), levavam consigo as cabeças decapitadas de todos os mártires que pereceram na batalha de Karbalá, exibindo-as, bem como os prisioneiros, pelas cidades por onde passavam, até chegar a Damasco, capital da dinastia dos Omíadas (que reinaram de 661 a 750 d.C.).

1. Quando exibiram a cabeça do Imam Al-Hussein (a.s.) diante de Obaid’Allah Ibn Ziád, governador de Al-Kufa, no Palácio do Governo, este, com o olhar aceso de sadismo e satisfação, não tirava os olhos da cabeça santificada. De repente, começou a escorrer sangue pelas paredes e saírem labaredas de fogo dos cantos do palácio, como se quisessem alcançar Obaid’Allah, o qual, apavorado, tentava fugir. Porém, seu intento foi inútil, pois o pavor o paralisava, enquanto ele e os presentes ouviam a cabeça falar-lhes, em voz alta: “Para onde fugis? Jamais escaparás nesta vida, pois estais presenciando a vossa morada na eternidade!” A cabeça só se calou quando o fogo se extinguiu.

2. Záid Ibn Arqam, certa vez falou: “Eu ouvi a cabeça do Imam Al-Hussein, em Al-Kufa, recitar versículos do Alcorão Sagrado, extraídos da surata Al-Cahf: ‘Ou pensas que os companheiros da gruta e de Arraquim constituíam um prodígio entre Nossos sinais?'” (18:9); prosseguindo em sua narrativa, Záid falou impressionado: “Nisso, senti todo o meu corpo se arrepiar e, surpreso, exclamei: “Por Deus, óh, Filho do Mensageiro de Deus, que a vossa cabeça é assombrosa!” E não só isso! A cabeça continuou recitando versículos do Alcorão, tais como: ‘(…)Eram jovens que criam em seu Senhor e Nós os iluminamos’ (18:13). Depois disso, penduraram a cabeça sagrada numa árvore em praça pública, na cidade de Al-Kufa mesmo, e o povo curioso foi se aglomerando ao seu redor, e todos viram sair dela uma luz brilhante e a ouviram recitar as palavras do Supremo: ‘E os injustos saberão no que se transformarão!’ Muitos outros versículos foram pronunciados pela cabeça do Imam (a.s.).

3. Durante o trajeto para Damasco, aconteceram muitos fatos curiosamente magníficos, alusivos à cabeça decapitada do Imam Al-Hussein (a.s.): Em certo lugarejo, levantaram com a lança a cabeça decapitada do Imam Al-Hussein (a.s.), perto do ermitério de um monge, onde os algozes posaram naquela noite. Horas mais tarde, o monge começou a ouvir uma voz enaltecendo a Glória de Deus (tasbih), celebrando em aleluia (tahlíl). Ao sair para averiguar de onde vinha o cântico, viu que a cabeça purificada estava plena de luz e a voz saudando: “A paz esteja contigo, óh Abi Abdullah!” O monge desconhecia os fatos do hediondo crime e, pela manhã, foi se informar com as pessoas e eles o informaram de que se tratava da cabeça do Imam Al-Hussein Ibn Ali (a.s.), sua mãe era Fátima (a.s.), filha do Profeta Mohammad (s.a.a.a.s.). Pasmado, exclamou: “Óh, que fatalidade, senhores! Eis que se confirmaram as notícias e, por ter sido assassinado, os céus lançarão chuva de sangue! Pouco depois, o monge foi ter com a sentinela e pediu-lhes a permissão para beijar a cabeça honrada, porém, eles negaram e só o permitiram depois que o sacerdote lhes ofereceu dirhams (moedas da época). Quando o grupo partiu com os prisioneiros, os sentinelas verificaram que estava escrito o seguinte nas moedas que o monge lhes havia dado: “Os injustos saberão em que se transformarão!”

4. Quando a caravana dos prisioneiros chegou a Damasco com as cabeças dos mártires envolvidas com panos, foram levados à presença de Yazid Ibn Moáuiya, o qual ordenou que fosse colocada diante de si a cabeça do Imam Al-Hussein (a.s.), em uma bandeja de ouro. Assim feito, o tirano, com um bambu na mão, começou a cutucar desrespeitosamente a boca e os dentes do Imam Al-Hussein (a.s.), dizendo: “Este dia é pelo dia de Badr!” Quis o cruel governante dos Omíadas aludir vingança para seus ancestrais idólatras, que pereceram pela espada do Islã na batalha de Badr (ano 2 da Hijra, ou seja, em 624 d.C). Entretanto, um dos presentes, ao ouvir as expressões vingativas de Yazid Ibn Moáuiya, e não mais se contendo, exclamou: “Eu vi com os meus próprios olhos o Profeta saciar a sede de Al-Hussein e de seu irmão Al-Hassan e dizer-lhes: ‘Vós sois os Senhores da Juventude do Paraíso e Deus exterminará quem vos matar e os amaldiçoará e lançará no fogo do inferno’.” Ao ouvir o que o homem acabara de proferir, Yazid enfureceu-se e ordenou a sua expulsão do recinto. No entanto, um dos presentes era o emissário do rei do Império Bizantino, o qual, ao saber de que a cabeça exposta diante dele pertencia ao neto do Profeta (a.s.), levantou-se indignado e falou para Yazid: “Nós temos, em algumas ilhas, cascos do burrico que pertencia a Issa (Jesus) e por isso fazemos peregrinação todos os anos para estes locais, onde, inclusive, cumprem-se promessas feitas pelos fiéis, enaltecendo o nosso Profeta! Portanto, dou meu testemunho de que caístes em desgraça ao matar o neto de vosso Profeta!” Naquele momento, a fúria tomou conta do Yazid, o qual, cego de ódio, mandou matar o emissário, o qual antes de ser executado, dirigiu-se à cabeça e beijou-a na testa, pronunciando a Chaháda (o testemunho de fé muçulmano). Quando o homem foi executado, todos ouviram uma voz clara saindo da nobre da cabeça do Imam Al-Hussein (a.s.), dizendo: “Não há poder nem força maior que Deus Supremo!” Depois disso, Yazid ordenou a retirada da cabeça sagrada e que a pendurassem no portão do Palácio. Mas, quando Hend Bent Omar Ibn Suhél, uma das esposas de Yazid, viu a cabeça de Al-Hussein (a.s.) pendurada no portão de sua casa e uma luz saindo dela, o sangue ainda gotejante e não coagulado, exalando um aroma agradável, não mais se conteve e revoltada, entrou na sala de audiência sem o hijab, gritando e chorando: “A cabeça do neto do Mensageiro de Deus está pendurada no portão de nossa casa, Ó Yazid!” Desde então, aquela mulher passou a desprezar seu marido pelos seus crimes vis. A sagrada cabeça do Imam Al-Hussein (a.s.) e as demais cabeças dos mártires de Karbalá permaneceram em Damasco até que Yazid permitiu à família e aos parentes do Imam Al-Hussein (a.s.) que retornassem para a cidade de Medina, a Iluminada. Mas, antes de partir, o Imam Ali Ibn Al-Hussein (a.s.) pediu permissão para levar consigo a cabeça de seu pai e dos demais mártires (a.s.), no que Yazid consentiu. Durante o trajeto para Medina, o grupo passou por Karbalá, onde enterraram as cabeças com os devidos corpos em suas sepulturas purificadas, e tudo isto ocorreu quarenta dias depois da batalha de Karbalá.