O 7° Imam Mussa Ibn Jaafar – “O Silencioso”

O Imam Mussa foi filho de Jaafar “Açadeq” Ibn Mohammad “Al-Báquer” Ibn Ali “Assajád” filho do Imam Al-Hussein filho do Imam Ali Ibn Abi Táleb; cognominado por “Al-Cazem”, isto é, “O Silencioso” por causa de sua paciência, clemência e calma, bem como, outros o apelidavam de “Açaleh” = “O Bom Devoto” e “Zein Al-Mujtahidin” = Formosura dos Estudiosos devido a sua extrema devoção.

Nascimento: O Imam Mussa “Al-Cazem” nasceu na cidade de Al-Abuá, onde faleceu a Amina Bent Wáhb mãe do Mensageiro de Deus a qual fica entre as cidades de Medina e Meca. Seu nascimento ocorreu no ano de 128 da Hijra ( 745 d.C) e, quando informaram o Imam Jaafar “Açadeq” do seu nascimento, ele exultou de alegria dizendo: “Quisera não Ter outros filhos além deste, para que nenhum compartilhasse com ele o meu amor paterno!”

O Imam “Açadeq” permaneceu pouco tempo na localidade de Al-Abuá; retornando logo para a cidade de Medina, levando consigo seu filho recém-nascido, o Imam Mussa Ibn Jaafar. Ao chegarem a cidade, as pessoas vieram em grupo para felicitá-lo pelo nascimento de seu filho Mussa e o Imam Jaafar “Açadeq” ofereceu aos congratulantes uma festa com um banquete por três dias consecutivos.

Seu pai: O Imam “Açadeq”

Sua mãe: Hamida, de origem Andaluzia. Dizem que era cristã, comprada pelo Imam “Al-Báquer”, oferecendo-a ao seu filho Imam “Açadeq”, o qual casou-se com ela e se empenhou em sua educação até que fê-la chegar a jurisprudência, passando ela a ensinar as mulheres, encaminhando-as aos dogmas do Islam e sua ideologia, entendimento e elevado caráter.

Avô Paterno: Imam Mohammad Ibn Ali “Al-Báquer”

Avó Paterna: Fátima Bent Al-Qássem

Seus Filhos

Teve trinta e sete filhos, sendo dezoito do sexo masculino e dezenove do sexo feminino, nascido de diversas esposas.

Seu Ministério

O Imam Mussa Ibn Jaafar tomou posse do ministério do imamato após a morte de seu pai, por volta do ano 148 da Hijra, correspondente ao ano de 758 d.C. Tinha ele então vinte anos de idade, ficando no poder por trinta e cinco anos, sendo ele o herdeiro da sabedoria e sapiência de seu pai e de seus avôs, admirado pela sua fina índole, desprendimento, generosidade, paciência e coragem. Seu pai, o Imam Açadeq disse-lhe certa vez: “Graças a Deus que te fez o sucessor de seus ancestrais, a alegria dos Profetas e a compensação dos amigos”.

Palavras e pensamentos do Imam Mussa “Al-Cazem”

Eis que relatamos a seguir algumas citações dadas ao seu discípulo Hichám Ibn Al-Hakim:

__ “Ó Hichám! Maldito o servo de Deus que tiver duas caras e duas línguas: procura amansar o seu fraterno quando o vê-lo e o engole em sua ausência…E, quando souber que seu irmão ganhou algo, passa a inveja-lo e se souber que ele caiu em desgraça o desampara”.

__ “Ó Hichám! Não há um dentre nós que não examina a própria consciência diariamente; se tiver feito o bem, ganhou maiores benefícios e se estiver feito o mal e se arrepender, Deus o perdoará”.

__ “Ó Hichám! O messias disse para os seus discípulos: __ Há dois tipos de pessoas, aquelas que confiamos em suas palavras e acreditamos em suas ações, e outras, que confiamos em suas palavras, mas acabaram perdendo o critério por causa do seu mal procedimento. Portanto, bem-aventurados são os notáveis pelas suas ações e ai daqueles pelas suas palavras sem ação!”

Da recomendação a alguns de seus filhos:

__ “Ó meu filho, afasta-te de alguma rebeldia que Deus alerta contra ela, e cuide para que Deus não te abandones diante de uma obediência que tu empenhaste como tal, fazendo-te afastar da adoração á Deus, pois Deus não rende o direito de venerá-lo”.

Eis uma recomendação especial á um de seus amigos:

__ “Comunique o bem, fale do bem e não sejas simultâneo”.

O seu amigo, então perguntou-lhe:

__ “Como, simultâneo?”

__ ” Não digas eu estou com o povo e eu sou um do povo, pois o Mensageiro de Deus disse: ‘Ó povo, vós encontrareis dois caminho do bem e do mal… que não seja o caminho do mal o preferível ao caminho do bem!”

As situações políticas que o Imam “Al-Cazem” presenciou

1. Quando o Imam Mussa “Al-Cazem” tomou posse do seu ministério, o qual prolongou-se por trinta e cinco anos, chegou a presenciar no governo dos Abássidas a saber: Abu Djaafar Al-Mansur, seu filho Al-Mahdi, o filho deste, Al-Hádi e depois seu irmão Haroun Al-Rachid, e, durante todos esses governos Abássidas mencionados, os da Linhagem do Profeta de Deus e seus adeptos foram cruelmente perseguidos e assassinados tanto individualmente quanto em massa, tomando-lhes seus bens e tesouros, só pelo fato de terem reivindicado o direito do povo e da justiça. Chegou-se a mencionar na história do Islam que Abu Djaafar Al-Mansur eliminou milhares de descendentes de Ali Ibn Abi Táleb e Fátima “Azzahra”, como também de um número incalculável de seus seguidores, chegando a estudar as maneiras de torturá-los e as formas de assassiná-los, a fim de se livrar deles, supliciando-os das formas mais cruelmente abomináveis possíveis, tais como, enterrá-los vivos, pressioná-los entre paredes mecanizadas e pontiagudas nos cárceres, ou jogá-los em celas fétidas cheias dos mais nocivos insetos e ratazanas, etc. E assim os seus sucessores deram continuidade as perseguições e suplícios aos adeptos do xiismo sofrendo ao sabor da espada dos Abássidas e do ferro em brasa.

2. A concessão do Governo Abássida era formada de sucessão hereditária do mesmo ramo familiar, e cada Governante tinha o livre arbítrio de proceder como bem entendesse em todas as questões do Estado, e sua vontade era indiscutivelmente Lei, podendo usufruir do tesouro público para si e para com os que os apoiavam. Relata a história que Al-Mahdi deu a um dos poetas 70 mil dirhams, só para declamar versos ofensivos aos descendentes do Mensageiro de Deus, vindos da parte de sua filha Fátima “Azzahra” com seu esposo Ali Ibn Abi Táleb. Conta-se também que os Abássidas incentivavam e patrocinaram com o dinheiro do Tesouro Nacional as casas noturnas para as diversões, deleites e degenerações. Um dos músicos da época, Isaac Al-Mousali, disse: __Se Al-Hádi permanecesse vivo teríamos pintado as paredes de nossas casas com ouro!

3. O Imam Al-Cazem suportou toda sorte de contrariedades à sua responsabilidade em seu ministério na liderança de sua nação, nesta desdita época que o rechaçou violentamente, por causa da deturpação e da propagação devassa e escandalosa pela permanência das casas de tolerância e do prazer, das tabernas e das bebidas alcoólicas, permitidas até no gabinete do Governador, o qual se empenhava na destruição da virtude e na difusão dos vícios e da libertinagem dentro da sociedade, para que lhe seja mais fácil manipular o povo, afastando-o da justa liderança, representada pelo Imam Al-Cazem; por isso, ele tomou a corajosa iniciativa na determinação de repelir tudo o que contradiz os preceitos da doutrina islâmica e defender publicamente contra toda e qualquer distorção, recusando apoiar o perverso de todas as formas possíveis. Deste modo, os governadores Abássidas, sentindo-se ameaçados e importunados com as atitudes do Imam, passaram a usar de um comportamento egoísta: aproveitando-se da fraqueza psicológicas das pessoas, mostravam-lhes o quanto eles__ os governadores__ são moderados e tolerantes, ao oferecer-lhes a “liberdade” de que usufruem e que portanto, são mais dignos do que os Imámes ( Protegidos pelo seu parentesco com o Mensageiro de Deus). A própria história nos relata que houve muitos protestos e debates entre o Imam Al-Cazem e alguns dos governantes Abássidas alusivos a sucessão do Mensageiro de Deus, tal como ocorreu entre ele e Haroun Al-Rachid, quando o Califa lhe falou: ” Por que exortou o povo para atribuir-vos de que sois os filhos do Mensageiro de Deus, enquanto sois os filhos de Ali Ibn Abi Táleb, pois todo homem descende de seu pai, e não da sua mãe e o Profeta Mohammad é vossa ancestral por parte de mãe?” Calmamente, o Imam lhe respondeu: __ Se o Profeta ressuscitasse e pedisse a vossa filha por esposa, a concederias? Imediatamente Haroun Al-Rachid assentiu: “Glorificado seja Deus! Como não aceitaria?! Pois eu me sentiria o mais honrado com isto e o mais privilegiado dentre os árabes e persas!” O Imam lhe falou então: __ Se o Profeta ressuscitasse, jamais me pediria a minha filha por esposa. Haroun Al-Rachid, lhe perguntou perplexo: __ Por que, ora? Nisso, o Imam replicou: “Porque ele é meu pai, mesmo pelo lado da mãe”. Mesmo assim, Haroun insistiu: Por que vos considerais semente do Mensageiro de Deus se a semente provém do homem e não da mulher?.. responda-me sem rodeios. O Imam lhe respondeu imediatamente: “Deus revelou na Surata Al- An’ Am (O Gado), nos versículos 83, 84 e 85: ‘ E aquele Nosso argumento proporcionamos a Abraão para persuadir seu povo de que Nós o elevamos as dignidades de quem nos Apraz. O vosso Senhor é Prudente, Sapientíssimo. E agraciamo-lo com Isaac e Jacó a quem iluminamos como iluminamos anteriormente a Noé e sua descendência, Davi e Salomão e Jó e José e Moisés e Arão e assim recompensamos os benfeitores. E a Zacarias e Yahia ( João Batista) e Issa (Jesus) e Elias, todos eles contam dos virtuosos”. O testemunho mencionado pelo Imam Al-Cazem nestes versículos alude a genealogia do Profeta Issa proveniente de Abraão. Depois de recitar os três versículos, o Imam prosseguiu: __É sabido de que Issa não teve um pai terreno e sua genealogia proveniente de Abraão é do lado da mãe, portanto, nós também descendemos do Mensageiro de Deus do lado de nossa mãe Fátima “Azzahra”. Diante da eloqüência do Imam “Al-Cazem” Haroun Al-Rachid nada mais falou, permanecendo calado. Respeitosamente, porém, o Imam lhe perguntou: __Gostaria Vossa Majestade que eu vos recite outro versículo? E Haroun assentiu: __ Recite, pois. O Imam começou a recitar o versículo 61 da Surata Aal Imram (A Família de Imram) “… e quem discute contigo a respeito dela (a verdade) depois do que veio em conhecimento, diz-lhe: Vinde! Convoquemos nossos filhos e vossos filhos, nossas mulheres e vossas mulheres e nós mesmos, e então pediremos que a maldição de Deus caia sobre os embusteiros.” O Mensageiro de Deus quando da Mobáhala, isto é, da Polêmica com os Bani Nidjrán, aludiu somente a Ali e Fátima “Azzahra” e seus dois netos Al-Hassan e Al-Hussein, pois ambos os considerava como seus próprios filhos, confirmando e reconhecendo o versículo, apear de descenderem do Profeta pela genealogia da mãe.

Sua Morte

Quando Haroun Al-Rachid passou realmente a se sentir importunado e incomodado com o Imam “Al-Cazem”, principalmente pelo fato de como o povo o procurava e o acatava, tencionou afasta-lo deles e de seus adeptos, alegando-o uma periculosidade a nação, então mandou prende-lo e aprisioná-lo, transferindo-o de prisão para outra; e o Imam permaneceu nesta situação por longos dezesseis anos, até que, a sua saúde passou a debilitar-se, definhando-se a olhos vistos e quando ele se ajoelhava e genuflexava para adoração de seu Senhor, parecia uma indumentária lançada no chão, e muitas vezes o Emissário de Haroun Al-Rachid, ao presenciar o estado lamentável do Imam, dizia-lhe: “O Califa vos perdoa e manda-vos soltar-vos com a condição de pedir-lhe perdão e implorar-lhe a benevolência”. Quando o Imam ouvia isto, se levantava indignado e silencioso, preferindo suportar o fel do presídio do que colocar a sua mão na mão do opressor para jamais realizar o desejo íntimo de Haroun Al-Rachid, porém, mandava-lhe a mensagem que dizia: “Não passará por mim um dia de calamidade que não passe por ti um dia de misericórdia até sermos todos banidos para o Dia que não terá fim e então, lá é que sucumbirão os inutilizados”.

O califa Abássida Haroun Al-Rachid não se satisfazia em jogar o Imam no presídio, mandava ainda algemá-lo com ferros, abandonando-o em celas fétidas e subterrâneas, donde não se distinguia o dia da noite, até que mandou ministrar-lhe veneno na comida; e assim, o Imam Al-Cazem morreu aos quarenta e cinco anos de idade, envenenado e sacrificado na prisão em Bagdá, longe dos familiares e de seus filhos no ano 173 da Hijra (790 d.C); e quatro carcereiros carregaram seu corpo e o jogaram sobre uma ponte de barragem como sinal de desprezo.

Quando se espalhou a notícia da morte e do desrespeito aos restos mortais do Imam Mussa “Al-Cazem” a população se indignou e entristeceu e os lamentos se ouviam por toda parte. Ao ver o que ocorria, Haroun Al-Rachid saiu descalço de seu palácio, batendo na própria cabeça pelo que fez com o Imam.

Foi assim que a estrela do Imam desapareceu e seu corpo foi enterrado no cemitério dos Bani Háchem, ao norte de Bagdá e hoje ele é conhecido como “O Cemitério do Silêncio ___ Al-Cázimiyya”, onde foi enterrado ao seu lado, seu neto o 9º Imam Mohammad Al-Jaúad, sobre o qual falaremos a seguir.

Desde então, a cidade do repouso eterno do Imam passou a ser considerada o local de defesa e proteção das camadas sociais da nação, no que se refere a cientistas, sábios, nobres, caridosos, etc. E Bagdá tornou-se o sinaleiro da arte e da beleza, enfim, um quadro que fala da civilização islâmica com o passar dos séculos, por causa suntuosidade de suas linhas na decoração e na arquitetura, bem como, verificou-se de que as pesquisas históricas só se iniciaram após o acolhimento do corpo purificado do Imam “Al-Cazem” porque as pessoas começaram a visitar a região e nela permaneceram ao lado dos adeptos da Linhagem do Profeta, expandindo assim a cidade, passando a ser o centro dos sábios, dos excelsos e dos notáveis, como das diversas escolas teológicas.

O Imam Mussa Ibn Jaafar “Al-Cazem” foi magnífico em sua morte e em seu túmulo, tal como o fora em vida.