Quarta Seção: Como Muslim, filho de Akil, o enviado do Imam Al-Hussein (A.S.) à Cidade de Al-Kufa, cumpriu sua missão

Meus queridos irmãos, todos sabemos que o território de Karbalá e os eventos da Ashura constituem uma escola de valores e atitudes humanas. Todas as pessoas de boa índole que participaram da defesa da verdadeira Religião Islâmica tornaram-se exemplos e mestres da fidelidade, compaixão, amor, respeito, carinho, valentia e coragem. Deus Altíssimo nos ordenou para compartilhar de todas as atitudes benéficas e praticar todos os comportamentos bondosos.

Citaremos, agora, duas atitudes benéficas, que devem servir de exemplo para todos os muçulmanos, que devem tê-las em seus corações e praticá-las em sua vida cotidiana. Estas são as seguintes: veracidade e fidelidade. Deus Altíssimo diz no Alcorão Sagrado, Surata 4, Versículo 58:

“Allah manda restituirdes ao seu dono o que vos está confiado: quando julgardes entre as pessoas, fazei-o com equidade. Quão excelente é isso a que Allah vos exorta! Ele é Oniouvinte, Onividente”.

Também diz Deus Altíssimo, no Alcorão Sagrado, Surata 9, Versículo 119:

“Óh, crentes, tomei a Allah e permanecei com os verazes!”.

O Santo Profeta Mohammad (A.S.) foi um exemplo vivo destas duas atitudes, antes mesmo de ele ser escolhido e considerado por Deus Altíssimo um Profeta e Mensageiro Divino. Os habitantes da cidade de Meca o conheciam desde sua infância como fiel e verdadeiro. Por isso, ele conseguiu receber a confiança de todos os habitantes e companheiros desta Cidade Sagrada, sendo agraciado com o epíteto de “Al-Amin”, ou seja, “O Confiável”.

Ao contrário destes valores elevados, existem atitudes más e reprováveis, como a mentira, traição e corrupção. Se nós queremos procurar exemplos práticos de atitudes humanas perfeitas, materializadas nos incidentes de Karbalá, com certeza os encontraremos nos pensamentos e na prática do Imam Al-Hussein (A.S.) e seus companheiros. Por outro lado, descobriremos que todas as péssimas atitudes estão materializadas nas práticas e nos corações dos corruptos Yazid, seus soldados e dos comandantes de seu famigerado exército.

Assim, o Imam Al-Hussein declarou a sua posição em Karbalá, na ocasião em que fez um discurso, chamando aos seus inimigos, dizendo:

“Juro por Deus que nunca foi minha intenção falar mentira alguma, pois Deus Altíssimo não aprecia os mentirosos”.

Esta frase do Imam Al-Hussein (A.S.) é um atestado por meio do qual ele confirma que sempre falou a verdade e sempre praticou atitudes condizentes com ela.

Durante a sua caminhada da cidade Sagrada de Meca para Karbalá, o Imam Al-Hussein (A.S.) recebeu a dolorosa notícia de que seu primo e enviado, Muslim filho de Akil, havia sido martirizado na cidade de Al-Kufa. Então, ele (A.S.) juntou-se aos seus companheiros, descrevendo todos os detalhes deste incidente doloroso. O Imam (A.S.) os alertou clara e firmemente que a trajetória que eles seguiam seria cheia de surpresas e que a viagem não seria confortável. Atento às dificuldades que adviriam, um grupo dos acompanhantes de Al-Hussein (A.S.) afastou-se, voltando para suas casas. Permaneceram ao seu lado, apenas, seus mais fiéis e verazes companheiros.

Estas declarações de alerta do Imam Al-Hussein (A.S.) são consideradas como um símbolo da fidelidade e da verdade que ele devotou aos seus seguidores e que estes devotaram a ele. Hoje nós sabemos que, quando o enviado do Imam Al-Hussein (A.S.) à cidade de Al-Kufa, chegou ao seu destino, cumpriu sua missão e seu papel de uma maneira completa e perfeita. A fidelidade de Muslim manifestou-se plenamente quando os partidários do filho de Ziyad, Obaidullah, governante representante de Yazid na cidade, conseguiram capturar Muslim nas ruas de Al-Kufa. Muslim, neste momento, começou a chorar. Então, estranhando o comportamento do emissário do Imam (A.S.), um dos malditos soldados omíadas falou-lhe:

“Aquele que vem para esta cidade para preparar os simpatizantes de Hussein não chora se for capturado”.

Muslim (A.S.) respondeu:

“Eu não choro devido à minha captura ou por minha causa. Choro por meus familiares, que estão vindo para esta cidade e não vão encontrar verdadeiros seguidores. Eu choro por Hussein e pela sua Família abençoada”.

As declarações de Muslim Ibn Akil deixam evidente que seu pesar não se devia à sua condição de prisioneiro. Ele derramava lágrimas pela decepção diante da traição e por temer o que seria feito do Imam Al-Hussein (A.S.) e de seus familiares diante da hipocrisia do povo local.

Uma mensagem importante que fica para nós destes fatos, ocorridos há 13 séculos, é que não basta, apenas, manifestar uma intenção por palavras ou cartas. Nosso verdadeiro caráter revela-se por meio de nossa prática, como fizeram os fiéis companheiros do Imam Al-Hussein (A.S.), pessoas verazes e abnegadas que permaneceram firmes ao seu lado. Não devemos jamais seguir o caminho dos companheiros hipócritas do Imam (A.S.), que fugiram diante do perigo, ou dos asseclas de Yazid, que usaram de estratagemas vis e da corrupção, traição e mentira para proteger os próprios interesses e seus falsos e ignominiosos valores.

A triste mensagem desta seção

Lembremo-nos que, depois da captura de Muslim, os malditos soldados de Obaidullah levaram-no para o palácio do governador da cidade. Neste momento, o filho de Ziyad ordenou que Muslim fosse conduzido ao teto da construção, de onde deveriam cortar sua cabeça e jogar o corpo. Eles fizeram exatamente o que lhes foi ordenado e acrescentaram aos seus feitos terríveis um procedimento por demais selvagem, aumentando a crueldade dos seus atos: amarraram o corpo do Muslim com uma corda e arrastaram-no pelas ruas de Al-Kufa, fazendo o povo local assistir a esta cena triste e deprimente.

Enquanto o Imam Al-Hussein (A.S.) prosseguia em sua viagem, recebeu a notícia trágica do martírio de Muslim Ibn Akil, praticado de maneira bárbara na cidade de Al-Kufa. Uma filha de Muslim acompanhava a caravana do Imam Al-Hussein (A.S.) em direção ao Iraque. Esta era muito pequena e se chamava Hamidah. O Imam Al-Hussein (A.S.) foi à tenda das mulheres. Quando chegou, chamou sua irmã, a senhora Zainab (A.S.), e pediu-lhe que trouxesse a menina para que ela fosse informada do martírio de seu querido pai. A senhora Zainab (A.S.) trouxe Hamidah e o Imam Al-Hussein (A.S.) a recebeu com carinho e respeito. Colocou-a em seu colo e começou a acariciar com suas mãos abençoadas a cabeça da menina. Na cultura árabe e islâmica, em geral, o fato de passar a mão sobre a cabeça de uma criança significa que ela ficou órfã. Naquele exato instante, Hamidah entendeu que o Imam Al-Hussein (A.S.) queria avisá-la do martírio de seu pai. Por isso, levantou e olhou para o rosto de Imam Al-Hussein (A.S.), dizendo:

“Óh, meu Imam! Será que meu pai morreu?”.

O Imam Al-Hussein (A.S.) não conseguiu agüentar, não pode controlar seus sentimentos e se pôs a chorar intensamente. Suas lágrimas correram sobre suas faces. Quando as mulheres perceberam o que estava acontecendo, começaram a chorar e gritar. O Imam Al-Hussein (A.S.) falou para a menina, de uma maneira terna, tentando consolá-la:

“Óh, minha filha! Se teu pai morreu, considera-me como teu pai”.

Contudo, este não seria o maior revés enfrentado pelos partidários do Imam (A.S.). A grande tragédia ainda estava por vir. A verdadeira tristeza e angústia de Hamidah e de todas as crianças órfãs de Karbalá viriam na tarde de Ashura, quando elas perderiam o ser mais carinhoso e mais amoroso para elas, o Imam Al-Hussein (A.S.). A partir do seu martírio, elas não sentiriam novamente o carinho das mãos afáveis do Santo Imam sobre suas cabeças.

Um conto para reflexão

Kais, filho de Mashar, protege a fidelidade ao Imam Al-Hussein (A.S.).

Durante a viagem de Meca ao Iraque, chegou ao Imam Al-Hussein (A.S.) uma carta, por meio de Kais Ibn Mashar, de seu enviado, Muslim Ibn Akil. Antes que Muslim fosse martirizado, havia escrito uma carta com o seguinte teor:

“Em nome de Deus, o Clementíssimo e o Misericordiosíssimo”

“O transmissor não pode negar o que viu. O povo de Kufa está disposto a estar a teu lado, na intenção de apóiá-lo. Venha, Óh, Imam!, quando lerdes minha carta… E fique com a paz.”

Quando o Imam Al-Hussein (A.S.) leu esta mensagem, seu ânimo renovou-se e ele decidiu (A.S.) continuar sua caminhada em direção à cidade de Al-Kufa. Pegou uma pena e escreveu a sua segunda carta para Muslim, dizendo nela:

“Em nome de Deus o Clemente o Misericordioso.”

“De Al-Hussein (A.S.), filho de Ali, para seus irmãos crentes e muçulmanos. A paz esteja convosco! Eu louvo a Deus Altíssimo e afirmo que não há divindade além d’Ele.”

“Chegou às minhas mãos a carta de Muslim Ibn Akil, na qual ele me avisa da bondade de vossa posição e do senso que vós possuis para proteger-nos e apoiar-nos. Desde então, roguei a Deus Altíssimo para que Ele (A.S.) melhore nossa situação e vos recompense de maneira carinhosa.”

“Eu, com minha caravana, parti em direção a vós numa terça feira, dia 8 de Zi Al-Hejjah , o ‘Dia de Rega’ . Quando vós receberdes meu enviado, deveis unir-se a ele em sua posição e lutar unidos, porque estou indo até vós, devendo chegar nos próximos dias, se Deus quiser.”

“Que a paz esteja convosco.”

Esta nova carta do Imam Al-Hussein (A.S.) foi enviada por um emissário chamado Kais Ibn Mashar, que partiu em direção a Al-Kufa.

Do outro lado, o governador da cidade, Obaidullah Ibn Ziyad, descobriu, por meio dos seus espiões, que o Imam Al-Hussein (A.S.) havia deixado a cidade sagrada de Meca, marchando em direção a sua capital com a intenção de comandar um levante. Então, preparou uma patrulha, liderada por Al-Hussaen Ibn Tamim, para vigiar o avanço do Imam (A.S.). Este comando acompanhou a caravana durante uma boa parte do caminho, até chegar a um lugar que se chama Al-Kadissiyah. Neste local, encontraram o enviado do Imam Al-Hussein (A.S.), Kais Ibn Mashar. Imediatamente, Al-Hussaen revistou Kais e antes que ele terminasse a revista, o enviado retirou a carta do Imam Al-Hussein (A.S.) do bolso e rasgou-a. O chefe da patrulha levou-o até o filho de Ziyad. Quando lá chegaram, avisaram-no sobre o que aconteceu no caminho. O filho de Ziyad levantou e perguntou a Kais:

“Quem és tu?”.

Kais respondeu:

“Eu sou seguidor do Imam Ali, o Príncipe dos Crentes, e de seu filho, o Imam Al-Hussein (A.S).

O filho de Ziyad disse:

“Mas, por que rasgastes a carta?”.

Ele respondeu:

“Para que tu não consigas descobrir seu conteúdo”.

O filho de Ziyad falou:

“E esta carta, quem foi o remetente e a quem foi enviada?”.

Kais respondeu:

“O remetente desta carta é Al-Hussein e o destinatário um grupo de habitantes de Al-Kufa, cujos nomes não sei”.

O filho de Ziyad ficou irritado e acrescentou:

“Juro por Deus, tu nunca nos deixará antes de dizer-me todos os nomes. Tu subirás neste púlpito e ofenderás a Al-Hussein, seu pai e seu irmão. Se tu não o fizeres, esquartejá-lo-ei vagarosamente”.

Kais falou:

“Os nomes dos integrantes deste grupo, eu jamais direi. Contudo, ofereço-me para ofender a Hussein, a seu Pai e seu irmão”.

Então, Kais subiu ao púlpito e começou a falar:

“Seja Louvado Deus, o Senhor do Universo. Que a paz esteja com o Profeta Grandioso”.

Ele aproveitou a oportunidade que lhe fora dada de falar com o povo de Al-Kufa para homenagear o Imam Ali e seus filhos, Al-Hassan e Al-Hussein (A.S.). Também usou o tempo que lhe foi dado para amaldiçoar o filho de Ziyad e seu pai, bem como todos os bárbaros e ignorantes membros da família omíada, os injustos corruptos e hipócritas dentre os muçulmanos. Entre outras coisas, falou:

“Óh, Povo de Al-Kufa! Verdadeiramente, Al-Hussein, o filho de Ali, é o melhor homem dentre os muçulmanos! Ele é o filho de Fátimah, a filha mais amada do profeta Mohammad (A.S), o Mensageiro de Deus! E eu sou o enviado dele a vós. Deixei-o enquanto ele caminhava na direção desta cidade. Vós deveis atendê-lo e obedecê-lo”.

Então, o filho de Ziyad ordenou aos seus malditos soldados para levá-lo até o alto do palácio, para que de lá ele fosse jogado. Dessa maneira, Kais Ibn Mashar tornou-se um fiel mártir no caminho da defesa da verdade.

Enquanto dirigia-se a Al-Kufa, o Imam Al-Hussein (A.S.) recebeu a notícia dolorosa do martírio de seu emissário. O nobre Imam (A.S.) começou a chorar e pôs-se a recitar o seguinte versículo do Alcorão Sagrado:

“Entre os crentes há homens que cumpriram o que haviam prometido a Allah; há-os que já morreram, e outros que esperam, sem violar a sua promessa, no mínimo que seja” Surata 33, Vers. 23.

Em seguida, acrescentou estas palavras:

“Deus Altíssimo concedeu a ele o paraíso como recompensa. Óh, meu Senhor! Concede-nos e para todos os que nos seguem no caminho reto um destino nobre e bondoso. Reuni-nos a eles na estância de Tua misericórdia e na ampla felicidade de Tua recompensa. Tu és o Poderoso sobre todas as coisas!”.