Por Hussein Mohamad Taha*

Após uma década da queda do ditador Saddam Hussein, uma intervenção militar infundada conduzida pelos Estados Unidos, com apoio apenas da Inglaterra sem autorização do conselho de segurança da ONU(e com uma enorme rejeição popular da opinião publica, tanto Norte Americana como mundial), o Iraque volta a sofrer desta vez com um inimigo muito mais perigoso, o mesmo que estava espalhando o terror na Síria, um grupo de terroristas, radicais, mercenários, assassinos que através de desculpas religiosas absurdas transformam o Iraque num palco da maior guerra entre Sunitas e Xiitas que o Islamismo e o mundo já viram.

Esse inimigoé novo no cenário internacional, foi criado durante o conflito na Síria, no ano de 2012 através de dissidentes da Al-Nusra, Al-Quaeda, Al-Shabab e entre grupos extremamente radicais, na tentativa de derrubar o presidente Bashar Al-Assad, mas estes foram derrotados, O Estado Islâmico no Iraque e no levante  EIILou ISIS (sigla em inglês para o chamado IslamicState in IraqandSyria, uma variante do nome troca Síria pelo Levante, e ainda outra por Al-Sham),reúne o que há de mais nefasto no mundo islâmico, Jihadistas, extremistas, fanáticos, terroristas, mercenários, que vislumbram a criação de um estado islâmico radical que tem sua extensão imaginada através do Iraque, Síria, Líbano, Palestina Histórica, Israel, Jordânia e Egito. Seus inimigos são países de maioria cristã ortodoxa Maronita, Muçulmanos Xiitas, Curdos e Judeus,

Torturas, mutilações e assassinatos são pouco para este grupo, se analisarmos o que é exposto na internet, como crucificar cristãos que se recusam a se tornarem muçulmanos. Seus maiores inimigos são os muçulmanos Xiitas, o que transforma a crise na Síria em um pequeno conflito com pouco significado. Nos últimos dias mais de dois milhões de pessoas se alistaram voluntariamente em defesa de lugares sagrados para os Xiitas (Mesquitas, e túmulos sagrados), tanto na Síria quanto no Iraque, um milhão e meio de pessoas já fugiram de suas casas em busca de refugio aumentando ainda mais o caos, os membros do EIIL exigem que as famílias entreguem suas mulheres para que os combatentes possam ter relações sexuais com elas,aqueles que não aceitam são executados sem piedade.

A situação no Oriente Médio que normalmente já é muito delicada, agora se complicada ainda mais: temos um fim de conflito que destruiu a Síria, o Iraque que jáfoi destruído pela guerraha mais de dez anos, o Líbano que sente os reflexos dos países vizinhos, Síria e Palestina.O Egito que em menos de dois anos tem seu terceiro presidente, e ainda a luta histórica onde a Palestina é oprimida por Israel e não consegue um consenso para eleição de um novo presidente, que alega estar agindo em legitima defesa, e por trás de todas essas situações tem os países do Golfo, Arábia Saudita, Qatar, Kuwait, Bahrein financiando esses grupos terroristas com dinheiro armas eapoio político e logístico.

As relações entre os países do Golfo, com o Irã, Síria e Líbano não são das melhores há muitas décadas,e o apoio à causa Palestina não passa de um teatro, já que Arábia saudita e Qatar possuem relações com Israel principalmente na área comercial, inúmeras organizações terroristas tem sua origem em países fundamentalistas como a Arábia Saudita, Afeganistão e campos de treinamentos no Paquistão, no Sudão e Somália.

Mas a grande questão é como ficará a situação geopolítica do Oriente Médio? Após a vitória esmagadora e incontestável de Bashar Al-Assad na Síria, o panorama em um possível conflito inter-religioso no Iraque  que fatalmente se espalhará pelo Oriente Médio e com certeza afetará o futuro no mundo islâmico. E o futuro da primavera árabe? Que sem dúvida nenhuma foi um fato novo na região que trouxe junto às reivindicações das populações, que buscavam melhores condições de vida com mais trabalho, educação, saúde e acabar com ditaduras, como na Tunísia, Líbia, Egito, Iêmen e em muitos países, mas essas ondas revolucionárias trouxeram junto inúmeras organizações terroristas que estavam na clandestinidade como a Irmandade muçulmana no Egito o BokoHaram na Nigéria a AL-Nusra no Iraque, Líbano e Síria, isso facilitou e muito o surgimento do EIIL.

Desde a morte do profeta Mohamad, a divisão do islamismo sempre gerou crises internas, mas com o patrocínio de países mais radicais como Arábia Saudita, Qatar e Kuwait financiam grupos radicais que são contra as escolas minoritárias no islamismo,como a escola Xiita, no fundo essa briga é política, já que os fundamentos da religião érespeitada por todas as escolas (no caso mais específicas Xiitas e Sunitas). No campo da política internacional Irã e Arábia Saudita não mantêm relações há muitos anos, e a Arábia Saudita tenta interferir em países onde o Irã tem influência, por exemplo: financiado os terroristas na Síria, encomendando e executando atentados no Líbano, perseguindo em seu território os Xiitas que vivem no sul do país, financiando e pressionando outros países para que façam o mesmo como no Bahrein.

Com a queda de Saddam Hussein, um novo governo é formado, tendo o Curdo JalalTalabani como o presidente, o Xiita Nouri AL-Maliki primeiro ministro e o sunitaUsamaal-Nujayfi como presidente do conselho de representantes. Essa configuração da menos poder aos sunitas que se sentem perseguidos por terem um curdo e um Xiita governando o país, na época de Saddam Hussein era diferente os Curdos e Xiitas eram perseguidos, na guerra do Golfo em 1991. Saddam Hussein massacrava o povo inclusive utilizando armas químicas. Os Xiitas representam 60% da população iraquiana, os Sunitas 20% e os curdos 15% outras etnias 5%.

Mas por que os terroristas do EIIL invadiram o Iraque? Eles pretendem destruir as cidades sagradas para os Xiitas Kerbala, Najaf, Kazimiya e Samarra.Visitadas por milhões de muçulmanos Xiitas todos os anos, essas cidades abrigam os mausoléus dos imãs, (segundo a escola xiita esses imãs sãoconsiderados sucessores do profeta sendo o primeiro Ali genro e primo do profeta representada por doze imãs todos descentes do profeta Mohamad, AhlulBait) já os sunitas crêem na sucessão profética por eleição sendo o primeiro califa Abu Baker. O EIIL é formado por combatentes sunitas extremistas que consideram os xiitas apóstatas.

Com a intenção dos terroristas de destruir as quatro cidades sagradas, mais de dois milhões de muçulmanos xiitas no Iraque e um milhão e meio de outros países, se alistaram voluntariamente pra para esta batalha, tendo apoio do Irã, Síria, Líbano, além de voluntários da África, Europa e da resistência libanesa Hezbollah, pessoas dispostas a morrer para defender os locais sagrados. Com a destruição desses locais os fundamentalistas crêem que terão destruído os Xiitas e poderão impor a interpretação radical da Sharia, lei islâmica baseada no Alcorão, criar um estado islâmico radical, onde não são toleradas pessoas que professem outras religiões como Cristãos Judeus entre outros.

Os Jihadistas* já dominaram várias cidades e refinarias importantes, vendendo clandestinamente petróleo que é uma das fontes de renda para sustentar o avanço do EIIL, outra fonte de renda é o financiamento que os países do Golfo enviam aos terroristas para lutarem na Síria, alem de saques, roubos. Desde a queda de Saddam em 2003 o Iraque virou um país sem paz, não conseguiu firmar um modelo de governo, por um lado por anseios do Ocidente, que pressionou para que o processo de democratização fosse mais rápido, e por outro lado por pressão e anseio dos vários grupos religiosos, políticos e étnicos. Curdos, xiitas e sunitas não se entendem de forma alguma, e com o apoio de “Atores” externos como Estados Unidos, países da Europa ou do próprio Oriente Médio, grupos terroristas, mercenários e de interesses econômicos, o Iraque é a região do Oriente Médio caminha a passos largos a uma guerra civil aberta que rapidamente se alastrara pela regiãogerando um conflito religioso e político perigosos pois qualquer  lado pode ter acesso a armas químicas ou de destruição em massa principalmente grupos terroristas como AL-Nusra, AL-Qaeda ou o EIIL.

Com a recusa dos Estados Unidos de intervir tanto militarmente como com ações para desestruturar, esses grupos radicais, muitos senhores do Oriente médio tem interesse nesse conflito, pois ganham cada vez mais dinheiro com a venda ilegal de armas, com o aumento do valor do Petróleo e até com campanhas para uma possível pacificação na região, tendo mais poder político, econômico e com influencia geopolítica. Nunca é de mais lembrar, que o Oriente Médio é um barril de pólvora sempre prestes a explodir, seja no conflito árabe-Israelense, o Apharteid israelense para com os palestinos ou o holocausto Palestino,não podemos esquecer que a Palestina é a maior prisão aberta do mundo, e bandeira de muitos países e grupos armados que integram a lista de grupos terroristas, com as revoluções da primavera árabe, os conflitos por poder político, por poder econômico e ate influencia religiosa.

Muitos se perguntam qual será o papel da ONU? Talvez estes acontecimentos sejam a maior prova para a ONUsaber se ainda é necessária no mundo atual, se ela conseguir mediar a situação possa sobreviver, ou pode ser seu fim caso não consiga nada, cabe lembrar, por exemplo, que o Estado de Israel nunca respeitou nenhuma resolução das Nações Unidas, que em 2003 os Estados Unidos passaram por cima da ONU e do Conselho de Segurança e mesmo não tendo autorização invadiu o Iraque sob o pretexto de localizar e destruir armas químicas e de destruição em massa que ate hoje não foram localizadas. Esse é o cenário com todos os elementos de uma região vital em muitos aspectos para a humanidade e o berço da civilização que hoje agoniza.

*Formado em Relações Internacionais pela Universidade Tuiuti do Paraná e pós-graduado em Relações Internacionais e geopolítica pela mesma instituição.