Por Hussein Mohamad Taha*

Nos últimos anos, o mundo vem assistindo com preocupação às grandes mudanças que ocorrem no Oriente Médio, mudanças que muitas vezes foram interpretadas incorretamente, como no caso da Síria. O Oriente Médio é uma região extremamente complexa, não deve ser analisada apenas em um único campo ou aspecto, a região deve ser analisada no campo político, religioso, cultural e econômico. A maioria dos países do Oriente Médio segue o regime onde a religião intervém em todos os aspectos do estado e determina como devem ser conduzidas.

Com as revoltas que afloraram em vários países como Egito, Iêmen, Tunísia, Bahrein, entre outros, a população, principalmente do Egito, imaginou que a democracia traria desenvolvimento, empregos, qualidade de vida melhor de uma hora para outra e isso não ocorreu, o que frustrou a população e gerou a queda do presidente eleito, Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, partido que tem como base a religião, mesmo partido eleito na Tunísia. Com algumas exceções, como Líbano, Síria e Irã, que possuem democracia, com instituições reconhecidas atuantes, onde há grande participação da população, os outros países não possuem e nunca possuíram esse sistema. Um exemplo é a Arábia Saudita, monarquia absolutista fundamentalista, onde a população não possui direitos ou estes são mínimos, as mulheres não têm participação na política, não podem dirigir e nem sair de casa sem autorização do pai, marido, irmão. É o mesmo sistema – wahabita – seguido de perto por Qatar, Kuwait e outros países da Península Arábica.

Podemos notar, então, que cada país possui sua interpretação religiosa, o que provoca grandes revoltas e conflitos internos e externos, como caso da Síria, que tem fatores externos, em nada é uma revolta da população Síria contra seu presidente. Segundo pesquisas de institutos europeus, se a eleição fosse hoje, o presidente Bashar Al Assad estaria eleito com 75% dos votos. E como funciona a eleição na Síria? O congresso sírio indica o presidente, então e realizado um plebiscito, onde a população aceita ou não a indicação do presidente. Se a população não aceitar, então é escolhido outro nome. Se o povo estivesse contra o presidente Bashar, não o teria aceitado no último referendo.

Com a crise na Síria sendo resolvida com a derrota dos terroristas, países que financiaram estas organizações começam a recuar e tentar uma aproximação com Damasco. Com certeza, a vitória da Síria contra os terroristas tem como aliados Rússia, China, Irã, Líbano, Iraque e o Hezbollah, grupo de resistência libanesa.

A recente assinatura de uma acordo entre os países que formam o conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha – um acordo que diminuirá as sanções econômicas sofridas pelo irã por seu programa nuclear – isola Israel ainda mais na região e traz o Irã mais próximo ao tratado de não proliferação de armas de destruição em massa. Israel fica isolado, sendo o único ator na região que possui armas de destruição em massa, já que a Síria entregou todas as suas armas para destruição no mês passado, dando fim ao impasse que levaria a uma guerra sem precedentes na região e, possivelmente, se alastraria rapidamente pela Europa, afetando o mundo todo, politicamente e economicamente.

Com atitude mais moderada, o novo presidente do Irã, o moderado Hassan Rouhani, prometeu, durante a campanha eleitoral, uma aproximação e abertura de diálogo com os Estados Unidos e países ocidentais, que até então eram hostis aos governos do Irã após a revolução iraniana liderada pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini em 1979 que derrubou o governo do Xá Reza Pahlevi, aliado americano considerado corrupto pela população iraniana. Com essa aproximação, o Irã poderá retomar seu desenvolvimento, recuperar dinheiro retido pelos governos que apoiaram as sanções econômicas, que prejudicavam a economia, desvalorizando a moeda, prejudicando o desenvolvimento do país. Com este acordo, o Irã prova, mais uma vez, que a finalidade do enriquecimento de Urânio tinha, única e exclusivamente, fins pacíficos. O governo iraniano aceitou as inspeções da ONU e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e os países ocidentais aceitaram e declararam que o enriquecimento de urânio é para fins pacíficos. Enfim, uma vitória da diplomacia, da política, mostrando que o diálogo é a chave para um futuro em paz.

Israel fica mais isolado na região, ainda tendo vários países hostis, agora sendo o único Estado com armas de destruição em massa, não sendo reconhecido como Estado soberano por quase todos os países árabes, perdendo força e credibilidade com países até então aliados, como África do Sul e Austrália, que exigem que qualquer produto produzido em Israel entre com a inscrição “Produzidos em território ocupados por Israel”. Entre 109 a 116 países reconhecem a Palestina como Estado, os palestinos puderam votar na última Assembleia Geral da ONU, um fato histórico. Aliados históricos de Israel criticam abertamente a construção do muro que transforma a faixa de Gaza na maior prisão a céu aberto do mundo, muito pior que o muro de Berlim, que dividia Berlim entre americanos e soviéticos.  Com esse quadro, Israel sentirá a pressão mundial para iniciar um diálogo com os palestinos e que aceite destruir suas armas, hoje o maior arsenal do mundo, já que Rússia e EUA destruíram parte de seu arsenal, e aceite o tratado de não proliferação de armas de destruição em massa.

Outro ator que começa a ficar isolado e preocupado coma a aproximação entre Irã e Estados Unidos é a Arábia Saudita. Não que o Irã e Estados Unidos se tornem aliados de primeira hora, mas mostra que, dificilmente, os americanos e aliados atacarão o Irã em curto prazo, pelo menos, fato que deixa os monarcas sauditas irritados, pois existe uma rixa grande entre iranianos e sauditas, no campo político, econômico, petrolífero e o ponto de maior divergência: o religioso. Mesmo sendo dois países muçulmanos, há uma grande divergência ideológica e filosófica em torno das escolas sunitas e xiitas no Islamismo.

Com esse novo cenário geopolítico, com certeza o mundo verá uma diminuição na pressão existente no Oriente Médio, o que, com certeza, trará inúmeros benefícios à população local e proporcionará um desenvolvimento para a região em vários campos, até mesmo fortalecendo a democracia e suas instituições, proporcionando à população desenvolvimento econômico, gerando renda, trabalho e bem estar social, entre outros aspectos.

* Internacionalista graduado pela Universidade Tuiuti o Paraná e Pós-Graduado em Geopolítica e Relações Internacionais pela mesma Universidade.