Por Gilberto Abraão

Está havendo uma terceira Intifada Palestina contra a ocupação israelense. Amigos meus continuamente me fazem a pergunta que já se tornou clássica: qual é a saída para o conflito entre palestinos e israelenses? Qual das partes possui na mão a chave da porta que dá acesso à saída do conflito?

Pois eu lhes digo, queridos amigos, que existem quatro portas de saída e cada uma das partes, palestinos e israelenses, tem chaves para essas portas. Fora essas quatro possibilidades não existe absolutamente mais nenhuma e uma delas terá que ser adotada e aceita por ambos os lados. Vejamos as quatro portas.

Porta Nº 1: Essa é a preferida de Benyamin Netaniahu e seus seguidores, adeptos do apartheid, da ‘cantonização’ e da confiscação de terras dos palestinos e, se possível, a expulsão deles dos territórios ocupados através de derrubamento de suas casas, queima de seus pomares e a constante hostilidade dos colonos judeus. Esse é o status quo na Palestina ocupada. É assim que Netaniahu e seus asseclas querem as coisas. Mas, paradoxalmente, quem tem a chave para essa ‘saída’ são os palestinos. Se os palestinos ficarem quietinhos em seus guetos, observando docilmente as bem estruturadas cidades judias, habitadas por colonos armados até os dentes a cercarem os seus guetos miseráveis, se toparem essa condição humilhante de não poderem circular em certas ruas e estradas que só os judeus circulam, se se calarem diante da degradação em que vivem, então terão a paz prometida por Netaniahu. Basta que os palestinos concordem com toda o aviltamento que o atual governo israelense está a lhes impor. Portanto, a chave dessa porta está nas mãos dos palestinos. Ou aceitam ou nada feito.

Porta Nº 2: Essa é a porta do acordo de Oslo, – a ilusão de dois países para dois povos, que até eu acreditei. Os signatários do acordo foram assassinados. Itzhak Rabin foi morto por um extremista de direita israelense e Yasser Arafat foi envenenado sabe-se lá por quem. O acordo de Oslo, quando foi assinado, criou uma expectativa de alegria e esperança nos lares palestinos e muitos lares judeus. Afinal, os palestinos teriam o seu país, formado pelo pequeno território da Margem Ocidental do Jordão e pela minúscula Faixa de Gaza. Todo esse território não daria seis mil quilômetros quadrados. Bem menor do que Lagoa dos Patos. A capital do país seria Jerusalém Oriental. Em Gaza haveria um aeroporto internacional e um porto e, talvez, contando com um pouco de generosidade e grandiosidade dos israelenses, seria construída uma autoestrada ligando Gaza a Hebron, atravessando o território israelense, de um pouco mais de 60 quilômetros. O que ligaria um estado palestino a outro num percurso de uma hora de carro, no máximo. Os palestinos festejaram a ideia.

Muitos israelenses também. Mas daí veio o partido direitista Likud e rasgou o acordo e defecou em cima dele. Não valeu nem o papel que foi gasto para redigi-lo. Quem tem a chave dessa porta é o governo israelense. Mas eles fizeram a coisa de tal forma que agora tornou-se irreversível. Como tirar os quase quatrocentos mil judeus que estão nessas cidades-fortalezas na Cisjordânia? Os palestinos terão que aceitar o fato consumado.

Porta Nº 3: Essa é a minha favorita. Criar um estado para os dois povos. Um estado binacional e laico. O nome poderia ser Estado Federativo de Israel/Palestina. A bandeira deveria ser modificada de forma a incluir os símbolos dos dois povos. Um estado cuja capital seria Jerusalém. Os judeus a chamariam de Yerushalaim e os árabes a chamariam de Al-Quds (a santificada). Um estado bilíngue, assim como são a Suíça, a Bélgica, o Canadá e mais alguns outros por aí. Os palestinos elegeriam um presidente e os judeus elegeriam um primeiro ministro. Ou vice-versa. O parlamento seria composto por metade de judeus e outra metade de palestinos muçulmanos e cristãos. Direito de ir e vir para ambos os povos. Conceder o direito de retorno aos palestinos da diáspora (ao redor de quatro milhões) que querem voltar às suas cidades e aldeias da antiga palestina ou indenizar aqueles que não querem voltar. Pois assim como se concede o direito de retorno aos judeus que, supostamente, estiveram na Palestina há dois mil anos, também deve ser concedido o legítimo direito de retorno aos palestinos que de lá saíram há apenas 67 anos, muitos deles ainda estão vivos e ainda carregam as chaves enferrujadas de suas casas. Eu usei o advérbio de dúvida ‘supostamente’ aí em cima por que existem dúvidas sobre a presença na Palestina dos ancestrais desses judeus que vieram e continuam vindo da Europa para a Palestina/Israel.

Dúvidas levantadas não por palestinos e nem por simpatizantes da causa palestina, mas sim por intelectuais e acadêmicos judeus, tais como Shlomo Sand, autor do best seller “A Invenção do Povo Judeu”, Noam Chomsky, Liliane Kaczerginski, Ralph Schoenman, que, como eu, defende uma Palestina binacional e laica, e outros.

A chave dessa 3ª porta está nas mãos dos judeus sionistas. Entretanto, é difícil – senão impossível – imaginar-se Netaniahu e seus partidários, a essas alturas, em um rasgo de humildade e grandiosidade, desmanchar toda a estrutura do estado sionista, que prega um país só para os judeus, para formar um novo país, onde judeus, muçulmanos e cristãos pudessem viver em paz, com igualdade de direitos e obrigações, sem apartheid, sem opressão de um povo sobre o outro. A grandiosidade e a magnanimidade têm que vir da parte mais forte. No caso, Israel.

Por fim, temos a porta Nº 4, que aconteceria se nenhuma das outras três forem abertas. Essa porta envolveria outros atores: Irã, Rússia, China, Síria (apesar de sua atual desestruturação), Hezbollah no Líbano, a Resistência Palestina e quem sabe o Iraque, de um lado. Do outro, teríamos Israel, Estados Unidos, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Catar e talvez a Grã-Bretanha que é marionete dos Estados Unidos. Daí, o furo é mais embaixo. Não quero nem pensar nas consequências. Seria a hecatombe.