Por Marta Tajra*

A famosa fábrica de entretenimento conhecida como Rede Globo de Televisão está proporcionando um verdadeiro show de preconceito e desrespeito em sua novela do horário nobre – Amor à Vida. Na trama, a fala de um casal de médicos enamorados – ela judia e ele palestino – reforça o mito do ‘árabe terrorista’ e do ‘judeu vítima’, numa lastimável apoteose de grossura cultural e política.  No diálogo dos dois, a guerra é tratada o tempo inteiro como se os dois lados disputassem um território em condições de igualdade. O que não é verdade.

Trata-se de um grave erro histórico, o qual a emissora repassa todas as noites para seu distinto e desinformado público. Faz parte do projeto sionista de opressão e ocupação do estado palestino, que a grande mídia ocidental – e parte de uma elite política -aceita como verdade. E que a Globo faz o favor de compartilhar de modo explícito e vergonhoso na telinha.

Na novela, Rebeca, a médica judia (Paula Braun)e o namorado palestino Pérsio (Mouhamed Hartouch), vivem um drama à la Romeu e Julieta tupiniquim, onde as famílias não aceitam a união do casal por causa de suas origens étnicas e onde – o mais grave de tudo – o personagem palestino aparece caricaturado como um terrorista devido a sua antiga participação em um grupo, em defesa de seu território, na época em que morava na Palestina. E é aí onde começa a distorção histórica. Pérsio, na novela, é sobrinho do poderoso César Cury.

Recapitulação histórica: Em 1948, foi criado o estado de Israel em terras exclusivamente palestinas gerando, a partir daí, um apartheid contra o povo palestino, expulso de suas casas e terras, sem nenhuma defesa perante uma ‘lei’ brutalmente imposta.  A partir disso, um grave comprometimento envolve a vida dos que não quiseram ou não tiveram condições de sair do local. Muito sangue já rolou de lá prá cá. Hoje, há um muro que separa literalmente os dois povos impedindo a convivência normal entre eles, além de uma série de medidas discriminatórias contra os palestinos como leis racistas, postos de controles e ataques quase diários contra agricultores e até contra crianças, velhos e mulheres.

Mas, na fala de Rebeca, personagem da novela, a realidade é completamente distorcida ao ponto dela afirmar categoricamente que há muitos casais judeus e palestinos convivendo em perfeita harmonia, como em qualquer estado democrático. Não há. Cidadãos palestinos são tratados como de segunda e até de terceira classe. O controle de israelenses sobre os palestinos é tão grande que há, inclusive, boicote de alimentos e remédios para estes últimos.

Mas, nada disso é discutido e passado para o público da novela da Globo, que se diverte com o excelente personagem de Félix (Marcelo Solano), deixando passar despercebido cenas que terminam, subliminarmente, reforçando um mito sionista e desrespeitando, por tabela, a histórica luta do povo palestino. O sionismo torna-se, desse modo, uma indústria rendosa, explorada sem escrúpulos, mas com ares de coisa honesta. Esquece a poderosa Globo que os telespectadores brasileiros, são, hoje, uma amalgama de raças. Entre estas, a do povo árabe, que muito contribuiu para a construção do Brasil como o conhecemos hoje. É espantoso e ofensivo à Inteligência do país.

Fica aqui o meu repúdio como jornalista descendente de árabes. (da Síria)

* Marta Tajra é jornalista no Rio de Janeiro (RJ)