Na última quarta-feira, os muçulmanos relembraram o martírio da querida filha do Profeta Muhammad – Deus o abençoou e à sua família e os saudou – Fátima Azzahrá. A seguir, seguem considerações sobre essa personagem tão importante na história do Islã:

O Islã é uma religião que surgiu para libertar a humanidade. Nenhuma outra mensagem religiosa trouxe uma mensagem tão democrática, ou seja, dirigida a todos os seres humanos, independentemente da cor de sua pele ou do seu gênero. Pelo contrário, vários são os versículos corânicos que colocam homens e mulheres, lado a lado, na piedade e nos direitos, nesta vida e na outra.

As mulheres tiveram, a partir do surgimento do Islã, um empoderamento que nenhuma outra mensagem religiosa as conferiu. E esse empoderamento lançou-as à luta pela vitória e pelo fortalecimento da mensagem do verdadeiro monoteísmo. Muitas foram as mulheres que, até os dias de hoje, ocuparam o pedestal do paradigma islâmico de comportamento e moral.

Fátima Azzahrá (a.s.), a querida filha do Profeta Muhammad (S), está entre elas. A Senhora das Mulheres do Paraíso foi o esteio, o apoio, a inspiração e a esperança do Rassul’Allah, em todos os momentos. Fátima (a.s.) era o conforto sempre presente, sempre à volta, o descanso dos olhos e da alma do Profeta. Muitas são as citações que espelham esse extremo carinho entre pai e filha. Talvez, um dos mais significativos, seja aquela em que ele se refere a Fátima como “mãe de teu pai”. Pensemos no que representam nossas mães, para nós. Essa era, no fundo, a relação que se estabeleceu entre ambos.

Fátima Azzahrá (a.s.) é um paradigma, um modelo a ser seguido por homens e mulheres. Não apenas muçulmanos, mas por seres humanos de todas as crenças, em todos os lugares e tempos.
A tristeza pela perda de seu pai, o Profeta Muhammad (S), afetou Fátima (a.s.) terrivelmente e este fato pavimentou o caminho para que a doença a atacasse e a debilitasse, até que ela fosse para a cama. A morte caminhava até ela rapidamente, sendo ela, ainda, muito jovem.

Era chegada a hora de ela reunir-se com seu pai, que a havia abandonado e havia levado consigo seu cálido amor e bondade. Impacientemente, ela esperava o momento de reunir-se com seu amado e bondoso pai, para queixar-se diante dele sobre o que as pessoas lhe haviam feito sofrer.

Quando os sinais da partida apareceram, Fátima (a.s.) contou ao seu primo e esposo, o Imam Ali (a.s.), sua última vontade: pediu-lhe que fosse enterrada sob a escuridão da noite que ele não permitisse que nenhum daqueles que a haviam prejudicado participasse do seu funeral, pois eles eram seus inimigos e de seu pai. Ela pediu que a deixassem em sua tumba e que esta não tivesse nenhum símbolo que a identificasse, devido a sua decepção. Pediu-lhe, ainda, que se casasse com Ummul Banin, que criaria seus filhos Al-Hassan, Al-Hussein e Zainab (a.s.) da melhor maneira. O Imam Ali (a.s.) assegurou-lhe que cumpriria sua vontade.

Fátima (a.s.) pediu a Asma bint Umays, a preferida e mais amada por ela entre suas colaboradoras, que lhe fizesse um ataúde especial, que cobrisse todo o seu corpo. Naquela época os mortos eram transportados em uma mesa, na qual o corpo ficava exposto. Fátima (a.s.) não queria que as pessoas vissem seu corpo. Por isso, Asma fez o ataúde como um que ela havia visto na Abissínia, durante seu exílio naquelas terras. Quando Fátima (a.s.) viu o ataúde, surpreendeu-se e sorriu. Este foi o primeiro sorriso de Fátima (a.s.) desde que seu pai (S) havia deixado o mundo.

No seu último dia de vida, Fátima (a.s.) recobrou um pouco de saúde e estava surpresa. Ela sabia que era seu último dia neste mundo e que logo se reuniria a seu pai (S); banhou, então, seus dois filhos, fez-lhes comida suficiente para o dia e lhes pediu que fossem visitar a tumba de seu avô (S). Ela os olhou com um olhar de despedida, enquanto seu coração estava cheio de tristeza e dor.

Al-Hassan e Al-Hussein (a.s.) saíram, enquanto sentiam que havia algo incomum. Ficaram muito preocupados com sua mãe. Então, Fátima (a.s.) disse a Asma bint Umays:

– Ó, mãe!

Asma respondeu:

– Sim, querida do Mensageiro de Deus (S)?
Fátima (a.s.) pediu a Asma que lhe trouxesse alguma água para banhar-se. Asma assim o fez. Depois do banho, Fátima (a.s.) pediu-lhe que trouxesse uma roupa nova. E assim fez Asma. Em seguida, Fátima (a.s.) lhe pediu que colocasse sua cama na metade da casa – no pátio. Asma começou a ficar preocupada. Estava assustada, pois sentia que logo Fátima (a.s.) morreria.

A filha do Profeta (S), então, inclinou seu corpo sobre a cama, com seu rosto voltado para a quibla. Disse, então, a Asma:

– Ó, mãe, vou morrer agora. Purifiquei-me e não deixe que ninguém me desvele.

Então, começou a recitar alguns versículos do Alcorão Sagrado, até que suspirou pela última vez e sua alma ascendeu até o Criador, rodeada pelos anjos, para ser recebida pelos profetas, sendo que adiante de todos eles estava o mestre de toda a criação, seu pai, o Profeta Muhammad (S). Ela morreu no período entre a oração do magreb (ocaso) e do ‘isha’ (noite).

Sua grande alma dirigiu-se ao mais elevado jardim e com satisfação divina; este mundo nunca teve e nunca terá uma mulher, entre as descendentes de Eva, como ela, em sua santidade, honra e castidade.

Al-Hassan e Al-Hussein (a.s.) voltaram rapidamente para casa, para ver o que estava acontecendo com sua mãe, mas não a encontraram. Asma lhes disse que sua mãe havia morrido e lhes pediu que o dissessem a seu pai; ambos correram até o corpo de sua mãe. Al-Hassan (a.s.) jogou-se sobre ela:

– Mama, fala comigo antes que minha alma deixe meu corpo!

Al-Hussein (a.s.) também jogou-se sobre ela, chorando e dizendo:

– Mama, eu sou seu filho, Al-Hussein, fala-me antes que meu coração se parta e eu logo morra!”

Asma levou Al-Hassan e Al-Hussein (a.s.) e começou a beijá-los e consolá-los, pedindo-lhes que saíssem de casa, temendo por eles e para que se fossem e dissessem a seu pai que sua mãe havia morrido. Eles foram à mesquita, enquanto choraram amargamente. Os muçulmanos estavam aterrorizados e lhes perguntaram por que estavam daquele jeito. Ambos responderam que sua mãe, Fátima (a.s.), havia morrido.

O Imam Ali (a.s.) estava confuso e transtornado. Disse ele:

– Ó, filha de Muhammad, quem vai me consolar agora? Eu sempre me consolava contigo e quem me consolará depois que tenhas ido?

Rapidamente ele voltou a sua casa, olhou o sagrado corpo de sua esposa e recitou esta poesia:

“Toda reunião entre dois amigos está seguida pela separação e qualquer coisa além da separação é pouca.
Ter perdido Fátima (a.s.) depois de Ahmad é uma prova de que nenhum amigo permanecerá para sempre”.

Os muçulmanos de todas as partes se apressaram até a casa do Imam Ali (a.s.) e choraram pela filha do Profeta (S), aquela que eles mesmos haviam ferido e de quem não haviam respeitado o direito. Com sua morte, a última página da profecia foi virada. Com sua morte, os muçulmanos recordaram a glória e a honra que o Profeta (S) havia estabelecido, a bondade e o amor que ele lhes tinha. Medina estremeceu com os gritos e o pranto de homens e mulheres. Eles esperavam o santo corpo para honrá-lo e escoltá-lo. O Imam Ali (a.s.) encarregou Salman, o Persa, para que dissesse à multidão que o funeral seria realizado no dia seguinte e que as pessoas fossem para casa. ‘Aisha veio, na tentativa de ver o corpo, mas Asma a impediu, dizendo: “Ela (Fátima) me pediu para que ninguém a visse”.

De noite, o Imam Ali, com Al-Hassan, Al-Hussein e Asma, lavaram ritualmente o puro corpo de Fátima e vestiram-lhe a mortalha. O Imam Ali (a.s) pediu que seus filhos se despedissem de sua mãe e ambos se lançaram sobre ela, enquanto choravam amargamente. Depois de uma despedida, o Imam Ali (a.s.) fechou a mortalha.

Na última parte da noite, o Imam Ali (a.s.) fez a oração do morto sobre o santo corpo e em seguida instruiu os hashemitas e os companheiros próximos do Profeta (S) para que levassem o sagrado corpo a sua última morada.

Ele não disse nada a ninguém, exceto a sua família e os escolhidos entre seus companheiros. Colocou Fátima (a.s.) na tumba e jogou terra sobre ela. Depois do funeral, colocou-se em pé junto ao túmulo e disse:

– Ó, Mensageiro de Deus, a paz esteja contigo de minha parte e sobre tua filha, que avizinhou-se de ti e que estava ansiosa por encontrar-se contigo. Ó, Mensageiro de Deus, minha paciência, depois de tua escolhida (filha) esgotou-se e minha resistência debilitou-se, exceto que tenho motivo de consolo para enfrentar a grande dificuldade e a calamidade da separação. Coloquei-te em tua tumba depois que destes o último suspiro, enquanto tua cabeça estava em meu peito. De Deus viemos e a Deus regressaremos.

Agora, o (que foi) confiado (a mim) é devolvido e o que havia sido dado foi quitado. Minha tristeza será eterna e em minhas noites permanecerei desperto, até que Deus escolha para mim a casa na qual vós residis agora.

Certamente tua filha te informará que tua nação se reuniu para oprimi-la. Tu lhe pedirás os detalhes e todas as notícias acerca da situação, isso tudo aconteceu quando não havia passado muito tempo e a lembrança de ti não havia se dissipado. A paz esteja com ambos e a vós minhas saudações de despedida, não de uma pessoa desgostosa ou odiosa; se me distancio, não é por cansaço, e se caio, não é porque perdi minha crença no que Deus prometeu aos pacientes”.

O Imam (a.s.) regressou a sua casa muito triste e angustiado. Sentia grande dor e tristeza pelo infortúnio e a calamidade que a filha do Mensageiro de Deus havia sofrido. Seus filhos encheram a casa com o pranto por sua amorosa mãe, que não viveu com eles muito tempo e os deixou ainda muito jovens.

Não é tão importante definir a data exata da morte de Fátima (a.s.). O que é importante é recordar as virtudes e os seus sucessos, para, assim, vivificar a crença em Ahlul Beit (a.s.), que Fátima (a.s.) havia estabelecido com base e argumentos.

O lugar da tumba de Fátima (a.s.) foi e é desconhecido, porque ela pediu ao Imam Ali (a.s.) que o escondesse, como prova de seu desgosto em relação a algumas pessoas, que não pouparam esforços para oprimi-la, sem respeitar a posição e proximidade que ela tinha com o Mensageiro de Deus (S).

No entanto, dizia-se que ela havia sido enterrada no Cemitério de Al-Baqi’, ou que foi enterrada em sua própria casa. Diz-se, ainda, que ela foi enterrada entre a tumba do Profeta (S) e seu mimbar. O Profeta (S) havia dito em uma de suas tradições: “Entre minha tumba e o meu mimbar há um jardim dentre os jardins do Paraíso”.