Esta sexta-feira é a última sexta-feira de Ramadã de 1.439. Esse dia foi consagrado pelo Imam Ruhollah Mussawi Al-Khomeini como o “Dia Internacional de Al-Qods”, que é a palavra, em árabe, para designar a Cidade Santa de Jerusalém. Abaixo, transcrevemos texto da Federação Palestina sobre o que representa a ocupação sionista da Palestina e o mal que ela oferece ao mundo:

DIA MUNDIAL DE AL-QUDS: UM ALERTA AO MUNDO DA LIMPEZA ÉTNICA NA PALESTINA.

Prezados irmãos, prezadas irmãs:

Desde 1979, quando ao mundo foi dado o presente da Revolução patriótica, popular e islâmica do Irã, seu líder político e espiritual, o ImamKhomeini (que Deus o abençoe), fundador da República Islâmica do Irã, decretou que a toda última sexta-feira do mês sagrado do Ramadã seja lembrado o DIA MUNDIAL DE AL-QUDS, Jerusalém, que, além de capital eterna da Palestina, é de importância capital ao monoteísmo, logo, a mais de 3 bilhões de muçulmanos e cristãos, bem como ao judaísmo sincero e não sionista.
Por este motivo, precisamos, de antemão, agradecer e louvar a memória do Imam Khomeini, bem como agradecer com todas as nossas forças ao empenho sincero dos líderes e dirigentes da República Islâmica do Irã pela promoção desta data desde sua primeira vez e até nossos dias, notadamente porque esta é manifestação sincera de apoio à Palestina e a seu povo, que tanto luta contra a ocupação, contra a segregação racial, contra o APARTHEID sionista/israelense, contra a LIMPEZA ÉTNICA ainda em curso, contra o genocídio e todas as demais formas de opressão, imagináveis e não imagináveis, perpetradas por Israel e seu regime sionista degenerado.
E mais: nosso agradecimento ao povo iraniano é maior e por razões muito anteriores, que não poderíamos de recordar neste ato. Graças ao empenho do Irã na recém-criada ONU, o então chamado Dossiê Palestina foi submetido a votação e sai vencedora a proposta que propunha que a Recomendação da Partilha da Palestina deveria ser remetida à Corte Internacional de Justiça antes de ser submetida a votação pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Esta proposta foi vencedora na Subcomissão 1, uma das duas criadas para debater a sugerida partilha da Palestina, mas depois, infelizmente, derrotada na Assembleia Geral, que preferiu analisar de plano e Resolução da Partilha. Novamente aí o Irã se empenhou para que a Resolução não fosse aprovada, figurando entre os 13 votos à época contrários à Resolução 181, que aprovou a Partilha da Palestina e 29 de novembro de 1947 e que deu início à trágica limpeza étnica da Palestina que segue até nossos dias. Portanto, o Irã vem provando o quanto é amigo verdadeiro e sincero do povo palestino desde o início da sua tragédia, que buscou empenhadamente evitar até o último momento.
Mas para que haja sentido falarmos de Al-Quds e do Dia Mundial de Al-Quds, precisamos falar da Palestina, berço do monoteísmo, berço da ideia de civilização, já que é nela que nasce a primeira cidade do mundo, Jericó, com quase 11 milanos, e depois dela muitas outras, milênios antes de surgir algo parecido em qualquer parte do mundo.
A Palestina começa a ser ocupada pelos primeiros povos oriundos da Península Arábica perto de 12 mil anos atrás. São, portanto, os árabes os primeiros habitantes da Palestina, que conhecemos como os cananeus. Com esse dado histórico derrubamos o mito sionista de que “eles” habitavam a palestina antes que os árabes, e que estes (os árabes) teriam chegado à Palestina apenas quando do advento da expansão do Islamismo. E são estes árabes/cananeus que fundam Jericó, a cidade mais antiga do mundo e que segue ainda habitada justamente pelos palestinos, há 10.700 anos, bem como todas as demais cidades/estado na Palestina, inclusive todas as citadas na Bíblia e noutros livros sagrados, com poucas exceções de outras fundadas pelos filisteus. Pasme-se, nenhuma cidade da Palestina histórica foi fundada pelos aludidos hebreus!
Andando rapidamente pela história, temos que na segunda metade dos 1850, o sionismo, nascido entre europeus de fé judaica como o seu nacionalismo, inclusive racista e colonialista porque esta era a regra reinante na Europa colonialista e imperialista, planeja criar uma nação EXCLUSIVAMENTE para judeus. Esta poderia ser do Canadá a Uganda, ou da Sibéria à Patagônia. Estas eram regiões postas à análise dos sionistas para sua escolha. Acabaram escolhendo a Palestina e lançaram o seguinte mito: “uma terra sem povo para um povo sem terra”. Duas mentiras. A primeira que a Palestina TINHA POVO e milenar, com densidade populacional superior à de quase todos os estados europeus daquele momento. Mas havia uma VERDADE aí, por paradoxal que possa ser, e muito trágica: anunciavam que FARIAM A PALESTINA SEM POVO, isto é, fariam uma LIMPEZA ÉTNICA. Fariam isso em Uganda ou onde quer que fosse, e o fariam e anunciam que o fariam na Palestina porque ela é que fora a escolhida para este projeto genocida, o sionista. A segunda mentira é que não há povo judeu, mas um credo religioso apenas, com base no qual inventaram o mito de um povo para reunir estrangeiros de vários lugares e leva-los à Palestina para lá cometerem o holocausto que hoje comentem contra o povo palestino.
E foi o que fizeram, de 1947 a 1949: tornar a Palestina SEM POVO. Trata-se da NAKBA, ou catástrofe, em seu significado do árabe para o português. A NAKBA, a palavra árabe que significa CATÁSTROFE, é um evento de dimensões inimagináveis, quase apocalípticas. Um pouco antes do 15 de maio que lembramos mês passado, exatamente em 19 de abril de 1949, um banho de sangue na pequena aldeia palestina de DeirYassin, promovido por grupos armados europeus sionistas recém-chegados à Palestina, dá a senha do que viria a acontecer: quase todos os moradores brutalmente assassinados e partes de seus corpos levados à exibição pública em Telavive, além da intensa divulgação do ocorrido por meio de panfletos, rádio e serviços de som dão o tom do que era pretendido, isto é, levar a população ao pavor. O intuito era claro: levar, por meio de propaganda de guerra não utilizada sequer pelos nazistas menos de 4 anos antes, o terror à população para que fugisse. E foi, de fato, o que sucedeu. Detalhe muito importante: DeirYassin está às portas de Jerusalém. Estava, assim, anunciado o que seria feito com JERUSALÉM, a Al-Quds próspera, de clima ameno, de precipitação pluviométrica equivalente à de Londres, milenar e santa, habitada ininterruptamente pelos palestinos desde sua fundação, 5 mil anos atrás.
Após este evento trágico e após o 15 de maio no qual Israel se autoproclamou estado sobre terras Palestinas, o inimaginável se deu: 774 cidades e povoados palestinos foram ocupados, dos quais 531 totalmente destruídos; 70 massacres foram cometidos, com mais de 15 mil mortos, incontáveis feridos e mutilados e dois terços da população originária, a palestina, expulsa pelos estrangeiros recém-chegados.
Foram tomados, pela força, pelo terror, pelas matanças e pela expulsão 78% do território da Palestina histórica e desta parcela de território, dos seus 900 mil habitantes, perto de 800 mil foram mortos ou expulsos, quase 90%. Isso jamais foi presenciado ou documentado na história humana. É esta a razão de se denominar estes eventos como NAKBA, como CATÁSTROFE.
A esta população foi negado o direito ao retorno. Tudo lhes foi tomado e é destes quase 1 milhão de desterrados que derivam os atuais 5 milhões 870 mil refugiados palestinos, a maior população refugiada do mundo, perto de 9% da atual população refugiada mundial, algo descomunal, especialmente porque a população total palestina, de 13 milhões, representa apenas 0,2% da população global. Isto dá, em cada grupo de 46 refugiados, absurdos 45 refugiados palestinos para cada 1 eventual refugiado de outro grupo étnico/nacional! Isso é absolutamente inacreditável, mas foi isso que o sionismo israelense fez, verdadeiro genocídio contra um povo desarmado.
Mas como isso tudo se articula com Jerusalém, desde os primeiros momentos da história até os dias de hoje? Bem, primeiro que Jerusalém também é fundada pelos cananeus, isto é, pelos primeiros árabes. Logo, nada tem que ver com os mitos sionistas, que lhe dão, inclusive, apenas 3 mil anos. Jerusalém foi fundada, pelos primeiros árabes, os cananeus, há 5 mil anos, isto é, 2 mil anos antes de qualquer pretensa presença mítica aludida pelos sionistas.
Esses mitos visam alcançar o que Israel e os EUA querem: ver JERUSALÉM integralmente sem palestinos, o que quer dizer, também, sem CRISTÃOS e MUÇULMANOS. Jerusalém é caso emblemático da limpeza étnica da Palestina, pois os dados populacionais para esta cidade palestina, a contar de 1948, não deixam dúvidas de que se trata de plano para total extermínio do povo palestino a guerra em curso. Em 1948, quando Israel toma a parte ocidental da cidade, 98 mil palestinos foram expulsos dela e de seu arredor, de seu distrito. Em 1967, quando toma a parte oriental, mais 67 mil palestinos foram expulsos ou mortos. E de 1967 para cá, outros perto de 150 mil foram expulsos, direta ou indiretamente (pelos impedimentos de construção ou reforma dos imóveis aos palestinos, zoneamentos que lhes impedem de construir ou ocupar terrasetc), dos quais 120 mil foram impedidos de regressar, sob os mais variados e ilegais pretextos.
E isto tudo se intensifica nos dias de hoje, em que segue o mesmo flagelo, o da limpeza étnica, que agora se dá por meio da ocupação dos territórios ocupados por Israel em 1967, Cisjordânia e Gaza. Já são, na Cisjordânia, 425 colônias, postos militares para controle da população palestina e incontáveis núcleos habitacionais, que abrigam 637 mil colonos estrangeiros recém-chegados à Palestina, em sua maioria de extremistas e supremacistas raciais, ardorosos defensores do APARTHEID e do extermínio do povo palestino. E novamente é preciso registrar que JERUSALÉM é o principal alvo neste processo, cercada que está de colônias que a despalestinizam, a descristianizam e a desislamizam. Que a roubam da humanidade judaizando-a com estrangeiros racistas e que defendem abertamente o extermínio da população palestina.
O atual reconhecimento, pelos EUA, de Al-Quds/Jerusalém como “capital” de Israel é apenas mais um passo rumo à integral expulsão dos palestinos, muçulmanos e cristãos, da cidade. Transferir a embaixada estadunidense de Telavive para a ocupada Al-Quds/Jerusalém é a senha de que tudo será permitido aos israelenses, especialmente a integral judiação da cidade e a expulsão da mesma de todas as demais fés religiosas.
Por tudo isso, neste Dia de Al-Quds/Jerusalém devemos alertar à humanidade de que não pode esquecerda tragédia que se abate sobre o povo palestino, de um lado, e de outro para lançar um alerta à humanidade: permitir que esta limpeza étnica triunfe significa que admitiremos como possível este modelo e que ele poderá ser aplicado em qualquer parte do mundo, contra qualquer outro povo. Quem será o próximo e sob que pretexto? Esta é a questão a que todos devem atentar: a Palestina é uma laboratório, um experimento macabro do sionismo, que, acaso triunfe, será modelo para outras limpezas étnicas.
Por fim, somente a criação do Estado da Palestina, já integrante da ONU como observador, bem como a implementação de todas as resoluções das Nações Unidas para a Questão Palestina, dentre elas a 194, que determina o direito ao retorno de todos os refugiados, trará paz para todos os povos da região, inclusive para o israelense. Um estado palestino contíguo e viável, seguro e com Jerusalém oriental sua capital é a chave para a resolução dos problemas do Oriente Médio e de grande parte dos que assolam o mundo atual.
Muito obrigado a todos e todas, especialmente aos que instituíram e generosamente guardam esta data todos os anos. Até a vitória. Palestina Livre.
Brasil, 8 de junho de 2018, Dia Mundial de Al-Quds.