Estamos, no momento, rememorando os 40 dias passados do martírio do Imam Hussein ibn Ali ibn Abu Talib – que a paz esteja com ele. É um festival chamado, em árabe, de “Arba’ín“. Aproveitamos a oportunidade para lembrar as últimas palavras e ensinamentos do Senhor dos Mártires do Paraíso, antes de tombar nas areias de Karbalá. Azama Allah ujurana wa ujurakom bi’mussabina bi Aba Abdillahi’l Hussein!

Palavras do Imam Hussein ibn Ali (a.s)

Relata Khurazmi: “Nos momentos mais cruciais da Ashura, quando o Imam se encontrava só, lutando valentemente frente a um poderoso exército, este quis provocar-lhe um dano psicológico, para prejudica-lo e para que, assim, ele não pudesse mais continuar. Portanto, distanciou-o da tenda das mulheres e, nesse momento, deu ordem de ataca-las. Então, o Imam exclamou: “Ó, seguidores dos filhos de Abu Sufian! Se não tendes nenhuma religião e não temeis o Dia do Juízo Final, pelo menos sê livres nesta vossa vida; e se tendes consideração por vossos antecessores e retornais a vossos ancestrais, se sois árabes como alegais, preservai, pelo menos, vossa honra como seres humanos…” Shemr, então, disse: “Que dizeis, ó, Hussein?”. O Imam continuou: “Eu estou lutando contra vós e vós contra mim. As mulheres não têm pecado nem culpa. Então, impedi que vossos tiranos violem minha família, enquanto eu viva”. Shemr disse: “Ó, filho de Fátima, teremos em conta esse direito”.  Logo, dirigiu-se até seus soldados e exclamou: “Distanciai-vos da família desse homem e atacai apenas a ele. Juro por minha vida que se trata de um nobre adversário!”.

Um tratado universal

Ainda que, aparentemente, estas palavras do Imam Hussein (a.s.) sejam dirigidas até as pessoas no dia de Ashura, no momento em que atacaram, covardemente, a sua família, na realidade, trata-se de uma mensagem geral e um tratado universal que, desde a terra de Karbalá, foi emitida a todas as pessoas do mundo e em todos os lugares e tempos. Uma mensagem que afirma que, ainda que as pessoas não tivessem uma religião para seguir, ao menos, deverá conservar seu valor humano e o de sua nação.

As leis celestiais, especialmente, a religião do Islã, condenam qualquer violação dos direitos dos demais, ainda que esteja em curso uma guerra entre dois grupos e ainda que o inimigo tenha começado o conflito, mesmo que seja ele violador e sanguinário.

“E combatei na senda de Deus com aqueles que o combate, mas não sejais agressores pois, certamente, Deus não ama os agressores” (Alcorão Sagrado, 2:190).

Esta aleiya (versículo), segundo os exegetas, quer dizer que não se deve violar os direitos de quem não é agressor, nem se deve destruir a casa dos atacantes nem cortar suas árvores, nem cortar-lhes o acesso à água; deve-se providenciar o atendimento aos feridos de guerra do exército inimigo, não se deve perseguir aqueles que fogem do combate, nem molestar as mulheres, crianças e velhos. Não se deve ofender nem difamar os que nos agridem.

Sim, ao longo dos séculos, desde a revelação deste versículo e mesmo após Hussein ibn Ali ter anunciado tal tratado, os legisladores “civilizados” também emitiram normas para as guerras mas, jamais poderão alcançar o nível de leis do Islã a respeito do tema.

Se vemos que Shemr, num instante, pela influência da palavra do Imam, ordena a suas hostes que detenham seu ataque contra as tendas, este foi um retrocesso provisório e, imediatamente, logo após o martírio do Imam Hussein (a.s.), novamente eles atacaram as tendas, as mulheres e as crianças e os saquearam.

A história se repete

Outra vez a história se repete e, uma vez mais, os herdeiros do clã de Abu Sufian e os novos “Abu Sufian” deste século estão fazendo o possível para apagar a luz do Islã que saiu à claridade, novamente. Atacaram a República Islâmica do Irã, durante oito anos, ocasionando grandes perdas de vidas e bens, na década de 1980. Têm atacado, também, outros países islâmicos, como o Líbano, Iêmen, Síria, Iraque, Afeganistão, Nigéria, Kashemira, Birmânia etc. Quantos jovens, mulheres e crianças derramaram seu sangue! O lamentável é que o mundo pseudocivilizado não apenas elegeu o silêncio frente a tantos crimes, selvageria e atos anti-humanos, como também fortalece e apoia, por meio de inúmeras armas, os inimigos da humanidade e continua seu forte apoio a eles, tanto política quanto economicamente.

O cenário do mundo atual demonstra que, hoje em dia, continua, ainda mais forte que antes, a mesma selvageria e desumanidade de antigamente e todas as pretensas alegações de civilização, avanço e progresso não são mais que pompas vazias. Em outras palavras, “muito barulho e pouca ação”.

As tristes notícias do dia a dia que chegam mostrando-nos esta barbárie demonstram que o mundo de hoje não está preparado para responder ao chamado do Imam Husein (a.s.), emitido nos momentos imediatamente anteriores ao seu martírio, sobre a quente terra de Karbalá: “Ó, filhos de Abu Sufian, se não tendes nenhuma religião e não temeis o Dia do Juízo Final, pelo menos sê livres (com fidalguia, sem subordinação) nesta vossa vida (…) e preservai, pelo menos, a honra como seres humanos”.

Segundo relataram o Xeique Tussi e Sayed ibn Taus em seus livros, o Imam Hussein (a.s.), abriu seus olhos nos últimos momentos de sua vida, dirigindo seu olhar ao céu e falou da seguinte maneira com o seu Senhor: “Ó, Deus meu, ó, Quem goza de um grau exaltado, uma grande majestade e poderio, de intenso poder e domínio, autossuficiente que não necessita de Suas criaturas, Quem Sua grandeza tudo abarca, Poderoso sobre tudo o que decidas, cuja misericórdia está próxima, Tua promessa é veraz, Tuas graças são abundantes, Tua prova é bela, estás próximo quando és chamado. Dominas a tudo o que criastes. Aceitas o arrependimento de quem se arrepende diante de Ti. Poderoso sobre tudo o que está abaixo de Tua vontade. Concebes tudo o que desejas, és agradecido e recompensador com quem Te agradece. Recordas muito de quem Te recorda. Suplico-Te encontrando-me necessitado e me inclino diante de Ti, indigente, e refugio em Ti, temeroso, e choro angustiado, e peço-Te ajuda estando débil, e me encomendo a Ti, considerando que Tu és suficiente para mim. Ó, Deus meu, Tu julgas entre nós e nosso povo, certamente que eles nos enganaram, humilharam, traíram e nos mataram, sendo que nós somos da família de Teu Profeta e filhos de Teu amado Muhammad (S), a quem distinguistes e honrastes com a profecia e o elegestes para confiar a Tua revelação. Então, desce sobre nós um alívio e uma saída para o nosso assunto, ó, o mais Misericordioso dos misericordiosos…”. O Imam (a.s.) terminou suas confidências com as seguintes palavras: “Sou paciente frente ao que me destinastes, ó, meu Senhor, não há divindade além de Ti. Ó, Socorro dos que pedem socorro, não tenho nenhum senhor além de Ti nem adorado senão Tu. Sou paciente em relação ao que decidires. Ó, Auxiliador dos que não têm auxílio. Ó, Eterno, ó, Permanente que não tem fim. Ó, Quem ressuscita os mortos. Ó, Quem classifica cada alma segundo o que ela pratica; arbitra entre mim e eles, pois és o melhor dos juízes”. Em seguida, colocou seu rosto sobre a terra e disse: “Em nome de Deus e com a ajuda de Deus e no caminho de Deus e sobre a religião do enviado de Deus”.